Hipomagnesemia grave secundária ao uso crônico de inibidor de bomba de prótons: relato de caso
Os inibidores de bomba de prótons (IBPs) estão entre os medicamentos mais utilizados no mundo, indicados principalmente no alívio de sintomas dispépticos, prevenção e tratamento de úlceras pépticas. Introduzidos no mercado na década de 80, atualmente têm-se observado as consequências de seu uso crônico, com vários efeitos adversos questionados como aumento do risco cardiovascular, doença renal crônica, demência, aumento do risco de fraturas e distúrbios eletrolíticos, principalmente hipomagnesemia e hipocalcemia.
Relatar um caso clínico de efeito adverso incomum, secundário ao uso prolongado de IBPs em altas doses.
Paciente do sexo masculino, 66 anos, hipertenso, diabético, tabagista ativo 50 anos/maço e portador de esôfago de Barret, em uso de pantoprazol 80 mg/dia há 10 anos. Iniciou quadro de tremor fino de ação em mãos, evoluindo para braços e pernas, presentes ao repouso, acompanhado de sensação de plenitude gástrica, náuseas e vômitos. Relatou emagrecimento de 10 kg em 60 dias. Durante a evolução, apresentou episódio único de crise convulsiva tônico-clônica generalizada com período pós-ictal prolongado. Associado ao quadro, apresentava episódios recorrentes de diarreia.
À admissão no Pronto Atendimento, apresentava sinais vitais estáveis, consciente, porém desorientado em tempo e espaço, coordenação motora preservada, reflexos presentes e simétricos, com disartria e mioclonias generalizadas. Exames laboratoriais iniciais mostravam: Cálcio iônico = 0,67 (VR 1,15-1,29 mmol/l), Magnésio indetectável ( VR 1,5-2,1 mEq/L). Administrado 1.000 ml SF 0,9%, 2 ampolas de Gluconato de Cálcio 10% e 4 ampolas de Sulfato de Magnésio 10%.
Encaminhado para enfermaria de Clínica Médica onde foi suspenso pantoprazol, iniciado calcitriol, além de reposição de magnésio e cálcio em bomba de infusão contínua, com melhora progressiva até a normalização dos níveis séricos.
Após investigação, foi atribuída como etiologia da hipomagnesemia e hipocalcemia o uso crônico em altas doses de IBP, com resolução clínica favorável após suspensão da droga e reposição adequada de eletrólitos.
Observamos ao longo dos anos a disseminação do uso dos IBPs, muitas vezes sem indicação terapêutica evidente. Neste caso, observamos um relato de hipomagnesemia e hipocalcemia graves secundários ao uso prolongado de IBP em altas doses. Assim, é importante ressaltar a necessidade de cautela na indicação e manutenção dos IBP e individualização de seu uso.
Inibidores de bomba de prótons; hipomagnesemia; hipocalcemia.
Clínica Médica
Universidade Estadual de Campinas - São Paulo - Brasil
Vinicius Benetti Miola, Guilherme Amorim Souza Faria, Marcos Vieira Rangel Pereira, Ana Claudia Guidio Paquola, Cristina Alba Lalli