MORTE SÚBITA ABORTADA SECUDÁRIA À SÍNDROME DO QT LONGO
A síndrome do QT longo é uma doença caracterizada pela desordem na repolarização do miocárdio, em que ocorre uma prolongação intermitente ou permanente do intervalo QT, diagnosticada no eletrocardiograma (ECG). As principais manifestações clínicas dessa síndrome são a palpitação, a síncope cardíaca, principalmente durante a realização de exercícios físicos ou estresse intenso, e a morte súbita, causada por uma forma atípica de taquicardia ventricular polimórfica. Essa disfunção pode ser congênita, por mutações gênicas ou adquirida, por uso de drogas específicas ou distúrbios eletrolíticos.
Relatar o caso de paciente com síndrome do QT longo
Relato de caso
Paciente masculino, 49 anos, fazia uso regular de sinvastatina (20mg), metoprolol (100mg), enalapril (20mg), AAS (100mg), hidroclorotiazida (25mg), pantoprazol (20mg) e amiodarona (200mg). Sofreu morte súbita abortada em abril de 2017 e foi, então, diagnosticado com síndrome do QT longo congênita. Afirmou que nunca havia ocorrido um episódio de parada cardiorrespiratória antes, mas referiu que vinha sentindo arritmias há 2 anos, geralmente noturnas. Passou por um período de estresse intenso 2 dias antes do fato ocorrido. Em sua história familiar, relatou que os pais faleceram aos 46 anos de idade por morte súbita. Ao exame físico, apresentava-se em bom estado geral, orientado, corado, sem dor e com aparelho cardiorrespiratório sem alterações. O eletrocardiograma revelou um intervalo QT corrigido (QTc) de 470ms. A terapia instituída para este paciente foi a implantação de cardioversor-desfibrilador (CDI) e acompanhamento com o setor de arritmias do hospital.
A literatura sugere que a síndrome do QT longo congênita (SQTLc) tem a prevalência de 1:2000-2500, indicando que um exame preventivo pode diagnosticar a maioria dos portadores da síndrome, assim como seus parentes mais próximos. O intervalo QTc de 450ms é considerado prolongado no homem. As alterações morfológicas da onda T são dinâmicas e cíclicas ao longo de 24h, expressando as importantes modificações da repolarização ventricular na SQTLc, a qual pode ser avaliada mais precisamente através do Holter-24h do que do ECG convencional. Pacientes com morte súbita abortada e com risco intermediário a alto são os indicados para implante do CDI. Em um estudo iniciado há 12 anos com portadores da SQTL, implantados e fazendo uso de betabloqueadores, já estão em sua 6ª ou 7ª década de vida.
síndrome do QT longo, morte súbita
Clínica Médica
Paola Fonseca Minuzzi, Islam Maruf Ahmad Maruf Mahmud, Fábio Tremea Cichelero