SÍNDROME HIPEREOSINOFÍLICA: RELATO DE CASO
Elevações exorbitantes nas contagens de eosinófilos são ocorrências raras na prática médica. As apresentações clínicas do excesso de eosinófilos circulantes culminam em uma gama de situações, que podem ser tanto assintomáticas, quanto manifestarem-se através de sintomas relacionados à infiltração de órgãos, promovendo lesões anatômicas ou graves disfunções. Os sistemas mais acometidos são principalmente pele, pulmões e trato gastrointestinal. A maioria das síndromes hipereosinofílicas são de causa idiopática.
Relatar o caso de um paciente com síndrome hipereosinofílica em contexto de perfuração intestinal espontânea.
Relato de caso.
J.C.O., masculino, 63 anos, com relato de mialgia generalizada e tetraparesia proximal há 8 meses de evolução, dá entrada em serviço de urgência apresentando dor abdominal de início há 15 dias. Constatou-se abdome agudo perfurativo, sendo imediatamente submetido à laparotomia exploradora. Identificada perfuração de alça jejunal sem causa aparente. Estudo anatomopatológico evidenciou inflamação inespecífica. Exames laboratoriais recentes demonstraram contagem de até 17.600 eosinófilos em sangue periférico, sem outras alterações. O paciente também apresentava achados de síndrome consumptiva, disfagia para sólidos, histórico de febres recorrentes, asma de início tardio e diarreia crônica. No pós-operatório foi administrado pontualmente glicocorticoide em contexto de choque. Após estabilização clínica, o paciente apresentava exame físico inocente, contagem de eosinófilos igual a zero, propedêutica laboratorial normal, exames de imagem sem alterações significativas e o paciente apresentou melhora clínica espontânea dos demais sintomas ao longo de duas semanas.
As eosinofilias podem estar presentes no contexto de inúmeras patologias diferentes, incluindo neoplasias, atopias, infecções e doenças reumatológicas. A sua investigação é essencial para determinar o tratamento mais específico. Apesar da contagem de eosinófilos não se relacionar diretamente com o dano tecidual, o médico deve estar atento à esse risco e pronto para intervir. A terapia com glicocorticoides na urgência, por outro lado, pode mascarar a doença de base e dificultar ainda mais o diagnóstico.
Síndrome hipereosinofílica, eosinofilia, perfuração intestinal espontânea.
Clínica Médica
Faculdade de Medicina de Barbacena - Minas Gerais - Brasil
Dévaki Araújo Cruz Attanasio, Stela Esteves Costa, Fernando Figueiredo, Leopoldo Freitas Araújo