A endemia da Coinfecção HIV-Leishmaniose Visceral: relato de caso
INTRODUÇÃO: A Coinfecção HIV-Leishmaniose Visceral (LV) representa uma endemia crescente em território brasileiro, em especial no estado de Minas Gerais, constituindo ainda patologia com muitas lacunas quanto ao manejo clínico e profilático. Só no município de Governador Valadares, notificaram-se 844 casos de LV entre 2008 e 2015, dos quais 18 eram coinfectados com HIV, uma incidência 6,30 e 7,85 vezes maior em relação à esfera estadual e nacional, respectivamente.
OBJETIVO: Levantar discussões sobre tratamento, prognóstico e prevenção de recidivas de LV em pacientes HIV.
RELATO DE CASO: Paciente masculino, 27 anos, 62 kg, 1,68 m, negro, natural e residente no município de Governador Valadares - MG, em união estável, pintor, ensino básico incompleto, apresentando quadro clínico de esplenomegalia, febre, pancitopenia e episódios de sangramento ativo. História de HIV há 7 anos sem tratamento ou acompanhamento regular e LV há 6 meses sem profilaxia secundária completa; nega outras comorbidades ou alergias. Parceira com histórico de coinfecção HIV-LV. Nega etilismo; refere uso de drogas ilícitas; tabagista. Feito diagnóstico clinico-epidemiológico de recidiva de LV com forma clínica grave.
Submetido a tratamento intrahospitalar com anfotericina B lipossomal (250 mg IV por 5 dias) e suporte clínico. Evoluiu com melhora dos sinais e sintomas, apesar de inúmeros fatores de mau prognóstico. Alta hospitalar e contra-referência para Centro Especializado. Restabelecido tratamento antirretroviral (TARV) – Tenofovir, Lamivudina e Efavirenz - e indicado profilaxia secundária com Anfotericina B lipossomal (250 mg IV) a cada duas semanas, não realizada por abandono pós reações adversas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A infecção pelo HIV eleva a chance de um indivíduo desenvolver LV de 100 a 2.320 vezes, triplicando a taxa de letalidade, aumentando até 5 vezes as chances de recidivas e reduzindo as possibilidades terapêuticas. A gravidade das manifestações clínicas, a resposta ao tratamento, a evolução e o prognóstico estão diretamente associados à condição imunológica. No caso relatado, a não realização de controle de TCD4+, tratamento, profilaxia secundária e seguimento adequados, devido à baixa adesão e manejo incompleto, contribuíram significativamente para coinfecção, recidiva e vulnerabilidade atual do paciente. Portanto, somente a adoção de medidas para boa adesão e melhores propedêuticas são capazes de modificar a história natural da doença.
Leishmaniose visceral
Coinfecção HIV-LV
Recidiva
Profilaxia secundária
História Natural da Doença
Clínica Médica
Douglas Vinícius Oliveira Santos, Daniela Moreira de Paiva, Natália Coelho Corrêa, Mariana Ataide Teixeira