Peritonite por Burkholderia cepacia em paciente em diálise peritoneal automatizada
A peritonite é uma das complicações mais frequentes em diálise peritoneal (DP), afeta substancialmente a morbimortalidade dos pacientes e é a principal causa de mudança de modalidade dialítica. Estudos mostram que 1-6% dos episódios resultam em morte. As bactérias gram-positivas são os agentes causadores mais comuns, sendo as bactérias gram-negativas raramente isoladas na avaliação microbiológica do efluente peritoneal.
Relatar caso de paciente em diálise peritoneal acometida por peritonite envolvendo Burkholderia cepacia
Paciente ESM, 76 anos, foi admitida na Unidade Renal do hospital referência de Teófilo Otoni, em 07/02/17 com quadro de prostração, dor abdominal e turbidez de efluente. Realizava terapia renal substitutiva (DP) desde 25/07/14, histórico de doença renal crônica secundária à arteríolonefroesclerose hipertensiva, hipertensão arterial sistêmica há mais de 20 anos, tabagismo, e passado de acidente vascular cerebral com sequela motora à direita. As manifestações clínicas e os resultados dos exames laboratoriais sugeriram tratar-se de peritonite aguda. Na ocasião foi iniciado antibioticoterapia empírica baseada no protocolo de tratamento de peritonite da Unidade (cefazolina e ciprofloxacino).
A amostra do efluente peritoneal para exame microbiológico mostrou cultura positiva para Burkholderia cepacia, sensível a sulfametoxazol-trimetoprim (SMZ+TMP), ceftazidima e meropenem. Sendo assim, a terapia foi substituída por ceftazidima. A paciente evoluiu com melhora clínica, tendo recebido alta hospitalar em 15/02/17. Um mês após o primeiro episódio, retornou com os mesmos sintomas previamente relatados tendo sido prescrito SMZ+TMP. Durante a internação a paciente evoluiu com piora clínica que motivou a retirada do cateter de Tenckoff (17/03/17) e a mudança da modalidade dialítica. A despeito da terapêutica e da retirada do cateter, a paciente evoluiu com choque séptico e óbito em 22/03/17.
A B. cepacia é um patógeno oportunista raramente encontrado nas peritonites relacionadas à diálise peritoneal. Como apresenta resistência a muitos antibióticos comuns, as infecções por este agente são difíceis de tratar e requerem terapia prolongada além de associação de antimicrobianos. O tratamento inapropriado parece aumentar o risco de recidiva e morte. Assim, a publicação de experiências pode auxiliar a orientar o tratamento nos casos de agentes etiológicos raros.
peritonite; diálise peritoneal; Burkholderia cepacia; terapia renal substitutiva
Clínica Médica
Universidade Federa dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - Minas Gerais - Brasil
Gabriel Monteiro Moura, Vinicius Delogo Neuman Rocha, Breno Artuso Lage, Carolina Araújo Assis Curty, Renata Vitoriano Corradi Gomes