Febre Maculosa Brasileira um desafio na pratica clínica: um relato de caso em área endêmica
A febre maculosa (FM) é uma doença causada pela bactéria Rickettsia rickettsii (RR), de notificação compulsória obrigatória no Brasil, sendo transmitida a partir da picada de carrapatos infectados. Entre 2007-2015 foram confirmados 1245 casos, concentrados em São Paulo e Santa Catarina. A despeito da baixa incidência, se associa à significativa morbimortalidade e elevada letalidade, em geral decorrentes do grande desconhecimento sobre a doença e ao baixo índice de suspeição na prática clínica.
Relatar a evolução e processo de investigação de um caso confirmado de febre maculosa atendido em hospital terciário de Campinas- SP.
Relato de caso
A.G.S.,19 anos, masculino, hígido, tratador de cavalos e trabalhador em porto de areia de rio em Paulinia-SP. Procurou atendimento médico durante 4 dias consecutivos em abril de 2017 com queixa de febre, mialgia, dor retro-orbitária, cefaleia, dor abdominal difusa e vômitos, quando recebeu a hipótese diagnóstica de amigdalite e posteriormente de dengue, prescrito sintomáticos e reposição volêmica com liberação após. Em 30 de abril, procurou novamente o pronto socorro, já em choque séptico, sendo submetido a suporte ventilatorio mecânico, alem do uso de drogas vasoativas e de antibióticos de amplo espectro. Durante a internação, evoluiu com diversas complicações como: insuficiência hepática, insuficiência renal, plaquetopenia, lesões purpúricas em membros, necrose de extremidades e hemorragia cerebral. Na internação, ainda necessitou ser submetido à amputação dos pododáctilos necrosados, conseqüência de choque importante. A confirmação da doença se deu por confirmação por soroconversão em imunofluorescencia indireta em amostras pareadas, sendo reagente apenas na convalescença. Sorologias para outras doenças causadoras de síndromes hemorrágicas febris, como dengue e leptospirose, foram negativas. Recebeu alta após 51 dias de internação.
Apesar de morar numa das áreas do país com maior número de casos de febre maculosa e apresentar antecedentes epidemiológicos de risco, o paciente a suspeita da doença só se deu após diversos atendimentos e em estágio avançado da doença. O presente caso ilustra a evolução e história natural da doença e ratifica a importância da necessidade de conhecimento clínico, mas também epidemiológico da febre maculosa brasileira como elementos fundamentais para redução da morbimortalidade associado a esse agravo reemergente.
Febre maculosa, síndromes febris hemorrágicas, choque séptico.
Clínica Médica
Hospital das Clinicas da Universidade Estadual de Campinas - São Paulo - Brasil
Heloana Albino Campos, Laura Costa Guimaraes Trindade, Grazielly De Fatima Pereira, Diego Quilles Antoniassi, Rodrigo Nogueira Angerami