Tétano acidental grave: relato de caso
O tétano é uma doença grave, prevalente em países subdesenvolvidos, apesar de ser prevenível por imunização. Caracteriza-se por um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central, manifestando-se classicamente como rigidez e espasmos musculares intensos.
Relatar um caso grave de tétano acidental, com espasmos musculares de difícil controle, que apresentou desfecho favorável com a terapêutica instituída.
Paciente do sexo masculino, 30 anos de idade, deu entrada com quadro de rigidez muscular de membros e de região cervical. Evoluiu com opistótonos e trismo, com necessidade de intubação orotraqueal e sedação. Foi transferido para a unidade de terapia intensiva. Foi aventada a hipótese de tétano acidental, sendo realizado vacina e soro antitetânico. Iniciou-se antibioticoterapia, foi precocemente traqueostomizado, porém, mantinha espasmos musculares e trismo, mesmo curarizado e com altas doses de benzodiazepínicos e opiáceos. Associou-se baclofeno à terapêutica e em seguida clorpromazina, obtendo melhora no controle dos espasmos com boa evolução clínica.
O tétano é uma doença aguda que apresenta alta taxa de mortalidade, mesmo sob cuidados intensivos. O período de incubação pode variar de 1 a 60 dias (em média 7 a 10 dias). É classificado como neonatal, quando acomete recém nascidos e decorre da falta de higiene do coto umbilical e da baixa cobertura vacinal; ou acidental, resultado da inoculação de esporos de Clostridium tetani em lesões cutaneomucosas. Os esporos, em anaerobiose, se desenvolvem e produzem toxinas, a principal tetanospasmina, é internalizada pelos nervos periféricos e transportada via axonal retrógrada até a fenda sináptica, onde impede a liberação de neurotransmissores inibitórios, submetendo os neurônios motores a descarga excitatória contínua, levando a espasmos musculares intensos, manifestando-se como trismo, riso sardônico e opistótono. O sistema nervoso autônomo também pode ser acometido, levando a disautonomias severas, aumentando a mortalidade da doença. O diagnóstico é clínico e o tratamento baseia-se em eliminar o foco tetânico; inativar a toxina circulante; relaxamento muscular e suporte intensivo.
O caso traz à luz a importância da prevenção primária desta doença potencialmente fatal e ainda frequente no mundo subdesenvolvido. Além disso, apresenta alternativas no manejo dos espasmos musculares refratários no paciente com tétano acidental grave.
tétano; espasmos musculares; baclofeno
Clínica Médica
Hospital Regional de Mato Grosso do Sul - Mato Grosso do Sul - Brasil
FABIO RODRIGUES DE OLIVEIRA, JEAN PEDROSO VASQUES, MÁRCIO ESTEVÃO MIDON