IMPACTO DO USO DE UM PROTOCOLO DE SEPSE NA INJÚRIA RENAL AGUDA
Introdução: A sepse permanece com elevada mortalidade no Brasil e espera-se uma redução desta taxa com a implementação de protocolos gerenciados. O impacto do uso desses protocolos na incidência de injúria renal aguda (IRA) associada à sepse permanece incerto.
Objetivos: Avaliar o impacto da implantação de um protocolo de sepse sobre a prevalência de IRA nos pacientes internados em um hospital de referência.
Métodos: Estudo retrospectivo transversal realizado no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maceió, através da análise de prontuários, no período de janeiro de 2012 a dezembro de 2015. O protocolo aplicado foi o “pacote de seis horas”, conforme as recomendações do Surviving Sepsis Campaign. Para o diagnóstico de IRA foram adotados os critérios de KDIGO.
Resultados: Foram analisados 278 prontuários, sendo 158 (56,8%) do sexo feminino. A média de idade foi 53,65 ± 20,03 anos, média do índice de CHARLSON foi 3,99 ± 3,13 e do APACHE II foi 11,88 ± 3,13. Em relação ao tipo de sepse, 147(52,9%) apresentaram sepse comunitária e 131(47,1%) sepse nosocomial. Na aplicação do pacote, 54(55,4%) tinham sepse não complicada, 106(38,1%) sepse grave e 18(6,5%) choque séptico. A maior parte da amostra 192 (69,2%) recebeu o pacote, sendo a mortalidade geral de 82(29,5%). Dos pacientes estudados, 117(42,1%) desenvolveram IRA, sendo 52(44,4%) KDIGO 3 e 21(7,6%) dialisaram. O uso de drogas vasoativas esteve presente em 69(24,8%) e manejo com ventilação mecânica em 65(23,4%) da amostra. Os pacientes que desenvolveram IRA apresentaram maior média de idade (57,47 ± 19,23 versus 50,87 ± 20,20 sem IRA, p=0,006), maior índice de CHARLSON (4,65 ± 3,24 versus 3,52 ± 2,9 sem IRA, p=0,003), maior escore de APACHE II (14,41± 5,99 versus 9,99 ± 5,7 sem IRA, p<0,000), maior mortalidade (67,1% versus 32,9% sem IRA; p<0,0001), maior necessidade de ventilação mecânica (69,2% versus 30,8% sem IRA; p<0,0001), maior uso de drogas vasoativas (73,9% versus 26,1% sem IRA; p<0,0001) e receberam o pacote com menor frequência (38% versus 62% sem IRA, p=0,04). Na regressão logística as variáveis que se correlacionaram de forma independente com a ocorrência de IRA foram apenas o uso de drogas vasoativas (RR= 6,27; p=0,013) e escore de APACHE II (RR= 0,91; p=0,02).
Conclusões: O desenvolvimento de IRA nos pacientes com sepse está associado a piores desfechos. O uso do protocolo de sepse não apresentou efeito protetor sobre a ocorrência de IRA nos pacientes estudados.
Sepse, Injúria Renal Aguda, Protocolo gerenciado
Clínica Médica
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE MACEIÓ - Alagoas - Brasil
Maria Eugênia Farias Teixeira, LUCIANO VASCONCELOS SANTOS JUNIOR, JÚLIA BRAGA VAZ, SARAH DE SOUZA LIRA GAMELEIRA, FLÁVIO TELES DE FARIAS FILHO