Relato de Caso: Síndrome da Rubéola Congênita e seu acometimento gastrointestinal
A infecção pelo vírus da rubéola, quando no primeiro trimestre de gestação, resulta em anomalias de diversos órgãos, sendo clássica, porém não patognomônica, a tríade de malformação cardíaca, catarata e surdez. Em conceptos com idade gestacional mais avançada, o risco de anomalias fetais diminui. Entretanto, ainda podem existir lesões inflamatórias e degenerativas no feto, especialmente no sistema nervoso central, coração, fígado e pulmões, sendo o acometimento no trato gastrointestinal (TGI) pouco comum.
Objetiva-se descrever um caso de Síndrome da Rubeola Congenita com acometimento gastrointestinal, em um paciente adulto, apresentando suas manifestações clínicas e evolução.
R.P.M., masculino, 23 anos com diagnóstico de microcefalia por rubéola congênita e epilepsia. Caquético (16kg), restrito ao leito, com rigidez articular difusa e gastrostomia (GTT). Múltiplas internações, por distensão abdominal e fecalomas, infecções urinarias e pneumonias broncoaspirativa. Admitido com relato de hemorragia digestiva alta e baixa sem evidencia clinica no momento e sem alterações endoscópicas significativas. Importante constipação e distensão abdominal dolorosa, foi resolvida com irrigação retal com solução fisiológica e manutenção de sonda retal aberta. Recebe alta melhorado com orientações para controle de obstipação e prevenção de aspiração.
Readmitido com perda de 3kg, constipado há 6 dias e sinais de broncoaspiração. Medidas previamente utilizadas como dieta, laxantes e irrigação retal não foram efetivas. Fecaloma alto persistiu e evoluiu com piora da distensão abdominal. Tomografia evidenciou intussuscepção. Paciente abordado na urgência com identificação no ato cirúrgico de perfuração de alça duodenal, com ressecção de alça acometida. No segundo dia de pós-operatório, paciente evolui com insuficiência respiratória e óbito.
O comprometimento gastrointestinal na síndrome da rubéola congênita ainda não tem a fisiopatologia consolidada. Duas hipóteses são consideradas: disfunção da musculatura lisa colonica a neuropatia degenerativa do sistema nervoso autônomo ou do sistema nervoso entérico, com redução no número de corpos celulares mioentéricos. Ademais, a retenção crônica de fezes pode gerar alteração da motilidade em outros segmentos do TGI, como o tempo de esvaziamento gástrico. O controle do transito intestinal visa prevenir e controlar constipação e dor abdominal, evitando complicações.
Rubéola, Congênita, TGI
Clínica Médica
CLARIANA FERREIRA DA COSTA MARTINS, FERNANDA FREIRE KOSAC