MIELOMA MÚLTIPLO: CITOPENIAS E ELETROFORESE DE PROTEÍNAS NORMAL – RELATO DE CASO
Mieloma múltiplo é neoplasia hematológica caracterizada pela expansão clonal de linfócitos B e componente monoclonal (M) no sangue e/ou urina. O diagnóstico muitas vezes é difícil já que as manifestações clínico-laboratoriais são inespecíficas tais como: fadiga, anorexia, constipação, fraturas patológicas, anemia e disfunção renal.
Relatar o caso raro de idosa com mieloma múltiplo, bicitopenia e eletroforese de proteínas normal.
MÉTODO: Relato de caso através de revisão de prontuário.
RELATO DE CASO: AGS, feminina, 77 anos, com queixa de fraqueza, desânimo, constipação, anemia normocítica (Hb 9,4 g/dL), plaquetopenia (111.000/mm³) e função renal normal. Acompanhada pelo clínico na UBS, fez uso empírico de sulfato ferroso e ácido fólico por 5 meses sem melhora e foi encaminhada ao ambulatório de hematologia. Evoluiu com piora clínica e exames laboratoriais demonstravam: hemoglobina 8,3 g/dl, leucócitos 2.590/mm³ e plaquetas de 57.700/mm³; eletroforese de proteínas, perfil de ferro e enzimas hepáticas normais. Avaliação da medula óssea demonstrou: mielograma com 28,4% de plasmócitos; imunofenotipagem compatível com neoplasia de células plasmáticas (CD27+, CD38+, CD45+, CD138+, lambda+, CD19-, CD56-, Kappa-); biópsia de medula óssea hipercelular com 35% de plasmócitos atípicos. Portanto, foi confirmado o diagnóstico de mieloma múltiplo e a paciente encaminhada para tratamento em serviço de referência.
Na suspeita clínica de mieloma a eletroforese de proteínas sérica é o principal exame de rastreio pois pode demonstrar o componente M em mais de 80% dos casos. Eletroforese de proteínas na urina, imunofixação e o ensaio de cadeia leve livre podem aumentar a acurácia diagnóstica. Nos casos em que o componente M não for detectado denomina-se como mieloma não secretor. No mieloma, o hemograma geralmente apresenta anemia normocítica (75%), já a granulocitopenia e plaquetopenia são raras. Observa-se que o tempo entre início dos sintomas e o diagnóstico do mieloma parece ser maior quando o paciente é avaliado inicialmente pelo clínico geral e esse atraso tem impacto no prognóstico.
Apesar de anemia em idosos ser comum e aproximadamente um terço dos casos ocorrer devido carência vitamínica, o tratamento empírico com ferro e ácido fólico deve ser evitado, especialmente na presença de outras citopenias que alertam para possibilidade de neoplasias hematológicas e necessitam rápida avaliação da medula óssea.
Clínica Médica
Fernanda Bortolanza Hernandes, Débora Santos Rodrigues, Adriano Morita Fernandes da Silva, Laura Cinquini Franco