Necrose aguda de esôfago: um relato de caso
Necrose aguda de esôfago (NAE), também conhecida como esôfago negro, é uma entidade patológica rara, sendo que a literatura descreve incidências variadas, chegando até 0,2%. É mais frequente em homens, em uma proporção de 4:1 em relação às mulheres.
Relatar um caso de esôfago negro em paciente com leucemia mieloide crônica.
Paciente masculino, 76 anos, com diagnóstico de leucemia mieloide crônica (LMC), internado devido à quadro de pneumonia adquirida na comunidade. Apresentava história de dor torácica esporádica com início desde há cerca de um mês. Durante internação apresentou dor torácica do tipo queimação com irradiação para região cervical, de forte intensidade, sem melhora com opioides. Descartado síndrome coronariana aguda e dissecção de aorta. Após início do quadro álgico, evoluiu com melena, sendo então realizada endoscopia digestiva alta (EDA), onde foram evidenciados esôfago negro, úlcera duodenal gigante com fibrina, sem sinais de sangramento ativo e subestenose duodenal. Paciente não apresentava história de ingesta cáustica.
NAE é caracterizada por uma aparência enegrecida da mucosa esofágica na endoscopia, sendo mais freqüentemente observada no esôfago distal, mas pode se estender proximalmente. Apresenta etiologia multifatorial e mecanismos fisiopatológicos ainda desconhecidos, estando associada a condições clínicas subjacentes graves, como: choque, isquemia, infecções, obstruções gástricas, ruptura ou dissecção de aorta, cetoacidose diabética, neoplasias, síndrome de Stevens-Johnson, hipotermia, hepatopatias ou síndrome do anticorpo antifosfolípide. A sintomatologia mais comum é o sangramento gastrointestinal alto, porém também podem estar presentes epigastralgia e disfagia. O diagnóstico pode ser realizado somente pela observação de lesões endoscópicas características. Não há tratamento específico, sendo que o manejo clínico inclui ampla hidratação, supressão da secreção ácida gástrica com inibidores da bomba de próton (IBP) administrados de forma endovenosa, repouso gástrico por 24-48h, nutrição parenteral à curto prazo e tratamento da causa subjacente. Sucralfato também foi citado na literatura devido a seus efeitos citoprotetores. Complicações relacionadas são perfurações, mediastinite e formação de estenose. A mortalidade depende da condição subjacente e é variável de 15% a 36%.
NAE é uma condição rara, associada a quadros graves, porém não apresentando etiologia e fisiopatologia bem definidas, de prognóstico relacionado à doença de base.
Necrose aguda de esôfago, esôfago negro.
Clínica Médica
HOSPITAL REGIONAL DE MATO GROSSO DO SUL - Mato Grosso do Sul - Brasil
JEAN PEDROSO VASQUES, GIULIANNA MARAN ANDRADE