Síndrome da Apneia Obstrutiva do sono desencadeando episódio de Fibrilação Atrial
A fibrilação atrial (FA) é o distúrbio de ritmo cardíaco mais comum, ocorrendo em 1,5 a 2,0% da população geral. Esta arritmia pode ocorrer no contexto de patologias não cardíacas, destacando a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), que compartilha fatores de risco em comum com essa arritmia.
Descrever a ocorrência de FA durante episódio de hipopneia, bem como apontar mecanismos fisiopatológicos envolvidos.
Paciente de 70 anos foi submetida a polissonografia devido queixa de insônia, ronco, diurese e asfixia noturna. Possui histórico de hipertensão pulmonar secundária à embolia pulmonar. Sem queixas de palpitações ou histórico de doença valvular cardíaca. Durante o estudo do sono, ao final de um evento de hipopneia, foi observado episódio de fibrilação atrial (Figura 1). A paciente despertou, com queda na saturação de oxigênio de 98 para 94%, mantendo-se assintomática e retomou o sono. Duas horas após o início da FA retornou ao ritmo sinusal espontaneamente (Figura 2).
A FA é uma arritmia frequente em pacientes com SAOS, estando essa associada ao início e manutenção da FA. Este fato é explicado a princípio por uma maior prevalência de fatores de risco comuns as duas patologias. Adicionalmente, a hipóxia e a hipercapnia causadas pela obstrução das vias aéreas superiores, geram um aumento reflexo da frequência cardíaca e pressão arterial com hiperatividade simpática. A taquicardia pode desencadear isquemia do miocárdio, com potencial de induzir arritmias. Além disso a inspiração forçada e repetitiva na SAOS gera pressões pleurais elevadas, com aumento da pressão transmiocárdica e do trabalho do ventrículo esquerdo. Isto é transmitido aos átrios, culminando com o estiramento auricular, alargamento da câmara e fibrose. O tratamento da SAOS com pressão positiva continua (CPAP) previne o aparecimento de FA já que o elimina muitos dos mecanismos arritmogênicos presentes em SAOS, sendo esta a terapêutica proposta na paciente relatada.
A FA pode ocorrer na presença de patologias não cardiovasculares, com destaque para SAOS, que compartilha fatores de risco em comum com essa arritmia. Pacientes diagnosticados com FA ou na presença de fenômenos tromboembólicos sem causa aparente devem ser submetidos ao estudo do sono. A detecção da SAOS em casos de uma FA de início recente auxilia a condução clínica e pode modificar seu prognóstico.
Apneia obstrutiva do sono, Fibrilação atrial, Estudo do sono
Clínica Médica
Fábio Antonio Gomes, Vanessa Carvalho Lago, Luiza Barbosa Brito, Thaíssa Gibim Ponçano, Carolina Tiburcio Salgado Silveira Mata