Trombocitose isolada: apresentação atípica de Leucemia Mieloide Crônica
Introdução: Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é uma neoplasia mieloproliferativa associada ao gene BCR-ABL proveniente do cromossomo Ph (t9;22). Manifesta-se com leucocitose neutrofílica e, em raras ocasiões, com trombocitose isolada.
Objetivos: Chamamos atenção no relato para a importância da investigação de trombocitoses persistentes ≥ 450.000/mm³.
Métodos: Consulta ao prontuário e Pubmed/Medline.
Relato de caso: Homem, 39 anos, metalúrgico, notou trombocitose isolada em hemograma periódico de outubro de 2012 (Hb 14,0 g/dL, leucócitos 11.900/mm³, segmentados 6.640/mm³, eosinófilos 690/mm³, basófilos 119/ mm³, plaquetas 664.000/mm³). Na ocasião, hematologista (outro serviço) realizou mielograma sem definição diagnóstica. Em agosto de 2016, iniciou febre alta e sudorese, artralgia, astenia, sem foco infeccioso identificado. Recebeu antibioticoterapia empírica sem melhora. Hemograma solicitado 15 dias após os primeiros sintomas: Hb 7,3 g/dL, leucócitos 32200/mm³, promielócito 966/mm³, mielócito 4508/mm³, metamielócito 2254/mm³, bastonetes 2898/mm³, segmentados 16100/mm³, eosinófilos 322/mm³, basófilo 322/mm³; plaquetas 694.000/mm³. Chegou encaminhado estável clinicamente, pálido, com hepatomegalia leve e esplenomegalia Boyd II. Mielograma: hiperplasia granulocítica; 6% blastos - fase crônica. Biópsia medula óssea: proliferação reticulínica grau I. Cariótipo: 46XY, t(9,22), (q34,q11.2)[17]. PCR para BCR-ABL positivo. Iniciado inibidor de tirosino-quinase com remissão completa da doença.
Discussão: As principais manifestações clínicas da LMC incluem mal-estar, fadiga, sudorese profusa, perda de peso, esplenomegalia, podendo haver febre especialmente na fase crônica. Leucocitose às custas de neutrófilo, eosinofilia, basofilia, anemia são comuns. Trombocitose isolada é rara e considerada manifestação atípica. Proliferação reticulínica está presente em 30% dos casos. O paciente, ainda assintomático 04 anos antes do diagnóstico, já tinha trombocitose com discreta eosinofilia. O mielograma é incapaz de afirmar se uma trombocitose é ou não reacional. Nestes casos, na ausência de manifestações inflamatório-infecciosas e na persistência de trombocitose, está justificada a pesquisa da mutação do gene JAK2 (trombocitemia essencial) e o BCR-ABL (manifestação atípica de LMC).
Conclusão: O clínico precisa se atentar a alterações plaquetárias mesmo em pacientes assintomáticos, pois o diagnóstico e tratamento precoces estão diretamente relacionados à sobrevida do paciente.
Leucemia Mieloide Crônica, trombocitose.
Clínica Médica
Universidade José do Rosário Vellano-Unifenas - Minas Gerais - Brasil
Jeane Almeida Prates, Rafael Pereira Marinho, Carlos Eduardo Engel Velano, Iara Baldim Rabelo