Miocardiopatia não compactada em indivíduo jovem
A miocardiopatia não compactada (MNC) é uma doença congênita rara, com prevalência desconhecida e prognóstico variado, resultante da falha na compactação do miocárdio no desenvolvimento embrionário.
Relatar caso de miocardiopatia não compactada em paciente jovem
Paciente masculino de 13 anos, com quadro progressivo de dispnéia, síncope durante atividades físicas, vômitos, cansaço aos grandes esforços e dor abdominal há 3 dias, apresenta piora clínica súbita, com dispnéia aos mínimos esforços. No eletrocardiograma da admissão observou-se taquicardia ventricular não sustentada. Os marcadores de necrose miocárdica foram negativos. Ecocardiograma evidenciou ventrículo esquerdo dilatado, hipertrofiado em parede lateral e apical, com impressão diagnóstica de miocárdio não compactado, além de sinais de hipocontratilidade difusa de grau importante, ventrículo direito aumentado e com hipocontratilidade importante, com fração de ejeção (Teicholz) estimada em 23%.
A MNC é uma doença congênita que resulta da falha na compactação do miocárdio entre a 5ª e 8ª semana de vida embrionária. O resultado é a persistência de trabeculações e recessos profundos que comunicam com a cavidade ventricular e geram espessamento do miocárdio em duas camadas distintas (uma compactada e outra não compactada), que não estão conectados à circulação coronariana. Envolve, tipicamente, o ventrículo esquerdo (VE), ainda que o ventrículo direito também possa ser afetado. A sua prevalência é desconhecida e subestimada pela sua baixa suspeição diagnóstica. Homens são mais acometidos, podendo haver ocorrência familiar. O aspecto clínico é heterogêneo, desde ausência de sintomatologia até insuficiência cardíaca congestiva (ICC), arritmias e tromboembolismo sistêmico. O ecocardiograma é a primeira ferramenta diagnóstica, podendo sugerir o diagnóstico. A ressonância magnética adiciona detalhes anatômicos e informações funcional da cinética dos segmentos não compactados e compactados, sendo por isso o exame de escolha para confirmação diagnóstica. O tratamento é voltado para as complicações, como anticoagulação, medidas farmacológicas e não farmacológicas para ICC, antiarrítmicos e cardiodesfibriladores implantáveis nos casos de arritmias ventriculares sintomáticas e função sistólica prejudicada.
Com diagnóstico crescente na prática clínica devido à melhora das técnicas radiográficas, a MNC mantem uma prevalência subestimada devido sua baixa suspeição diagnóstica.
cardiomiopatias congênitas, miocardiopatia não compactada
Clínica Médica
Hospital Santa Isabel - Santa Catarina - Brasil
Thaís Conde Masagão Ribeiro, Maurício Felippi de Sá Marchi, Renata Della Giustina, Giovanni César Stolf