PREVALÊNCIA DE ADESÃO AO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPO 2 ATENDIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE CANOAS
A não adesão à farmacoterapia é considerada grande problema de saúde pública. É achado frequente em diversas doenças, sobretudo naquelas de natureza crônica como o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e, provavelmente, constitui a causa mais importante de insucesso terapêutico.
Conhecer o grau de adesão do paciente ao regime farmacológico prescrito.
Estudo transversal realizado em portadores de DM2, maiores de 18 anos, tratados no ambulatório de Endocrinologia e no setor de internação clínica do Hospital Universitário de Canoas. Foi aplicado o teste de Batalla, que avalia a adesão farmacológica através do grau de conhecimento do paciente em relação à sua doença por meio de três perguntas: 1.“O DM2 é uma doença para toda a vida?”; 2. “O DM2 pode ser controlado com dieta e/ou remédios?”; 3. Cite 2 ou mais órgãos afetados pelo DM2”. Uma resposta errada classifica o paciente como não aderente. Uma análise de regressão logística foi realizada para avaliar as variáveis independentes preditoras de adesão ao tratamento farmacológico, usando o teste de Batalla como variável dependente.
Dos 96 pacientes avaliados, 49% apresentava adesão ao tratamento, sem diferença entre os sexos (P = 0,279). Idade maior foi associada a maior risco de não adesão ao tratamento (P=0,017). O uso de insulina apresentou uma tendência de pior adesão ao tratamento (P=0,052). Surpreendentemente, pacientes com melhor adesão apresentaram tanto a glicemia de jejum quanto a hemoglobina glicada maiores (P = 0,037 e 0,003, respectivamente). De todos os pacientes analisados, 51% (n =47) deles não souberam citar pelo menos dois órgãos afetados pelo DM2. O índice de acerto geral do teste (acurácia) foi de 69,6%, com uma especificidade de 77,8% e uma sensibilidade de 57,9%. Das variáveis testadas na regressão (idade, sexo, escolaridade, renda, duração do DM2 e tempo de uso de insulina), apenas o tempo de uso de insulina foi associado à pior adesão (β =-0,422, P=0,044).
Com base nos resultados encontrados, podemos concluir que a prevalência de adesão dos pacientes com DM2 é muito baixa. Ademais, a performance do teste de Batalla pode ter sido comprometida em pacientes internados por complicações do DM2, já que muitos dos que souberam responder pelo menos dois órgãos afetados pelo DM possuíam alguma complicação aguda (viés de memória). Idade avançada e uso de insulina associaram-se à pior adesão ao tratamento.
Clínica Médica
Camila Vicenzi, Milene Moehlecke, Paulo Ramos Filho