Hepatite fulminante em paciente HIV positivo: diagnóstico de difícil manejo em Unidade de Saúde de nível terciário
A hepatite fulminante, também conhecida como falência hepática aguda é um quadro em que ocorre o desenvolvimento de injúria aguda severa ao fígado acompanhada de encefalopatia hepática e distúrbio da coagulação, caracterizado por INR > 1,5 em paciente sem cirrose ou doença hepática previamente conhecida. O tempo de duração pode variar, sendo o ponto de corte definido como menor que 26 semanas. Quando não reconhecida e instituído o tratamento prontamente, o prognostico torna-se progressivamente sombrio.
Relatar um caso de hepatite fulminante de provável etiologia medicamentosa em paciente jovem portadora de síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA).
Paciente sexo feminino, 35 anos, portadora do vírus HIV com diagnóstico há 5 meses em uso de terapia antirretroviral dá entrada na emergência da unidade de pronto atendimento com quadro de colestase associada a relato de delirium por familiares. Transferida para Hospital terciário no segundo dia de internação. No sétimo dia, evolui com febre e radiografia de tórax evidenciando condensação pulmonar à esquerda, iniciando-se antibioticoterapia empírica. Após 3 dias evolui com rebaixamento do nível de consciência, aumento progressivo do INR e hipotensão arterial importante. Apesar de instituído o tratamento medicamentoso e terapêutica adequada para o quadro de hepatite fulminante, paciente veio a óbito dois dias após o diagnóstico presuntivo.
O caso relatado tem como provável etiologia a reação por drogas da terapia antirretroviral pois segundo estudos recentes esta é a principal causa da doença após intoxicação por acetaminofeno, uma vez que a doença manifesta-se geralmente após seis meses de introdução da terapia. O diagnóstico de injúria hepática aguda é iminentemente clínico e o tratamento de escolha é o transplante hepático de emergência, sendo o único que comprovadamente altera mortalidade. Devido a pluralidade de manifestações clinicas e doenças associadas a SIDA, o diagnóstico foi difícil e tardio. Concomitantemente, o tratamento preferencial era contra-indicado, uma vez que o mesmo necessita de imunossupressão após a cirurgia.
Sendo assim, apesar de instituída terapia medicamentosa e de suporte mais atual segundo as referencias, independente do tempo de desenvolvimento e reconhecimento do quadro a chance de sobrevivência era muito baixa.
Hepatite, encefalopatia, transplante, HIV
Clínica Médica
Ana Letícia Barreiros Pinto, Michel Fernandes, Tiago Meohas