Aortite Sifilítica em Portador de Trombofilia: Relato de Caso
Aproximadamente um terço dos pacientes com sífilis não tratados apresentam sífilis terciária após um período latente que varia de 10 a 30 anos. A lesão primária da sífilis cardiovascular é a aortite, uma resposta inflamatória à invasão da parede aórtica pelo Treponema pallidum que evolui para endarterite obliterante da vasa vasorum e resulta na necrose das fibras elásticas e do tecido conjuntivo na camada média da aorta. Os aneurismas infecciosos representam apenas uma pequena proporção das lesões aneurismáticas, e a sua frequência varia entre 0,5 e 1,3%.
Relatar um caso raro de aortite sifilítica em paciente portador de Trombofilia.
Homem, 37 anos, em acompanhamento clínico com Hematologia devido a trombofilia - homozigose para a mutação C677t do gene MTHFR - diagnosticada após quadro de AVEi, queixando-se de diplopia, apresentando ao exame físico massa em região infraclavicular direita, pulsátil, indolor. Tomografia de tórax evidenciou volumosa dilatação aneurismática de aorta ascendente, determinando erosão óssea sobre 1º e 2° arcos costais anteriores à direita, bem como sobre o esterno adjacente. Angiotomografia apresentou exuberante aneurisma sacular em segmento ascendente e crossa de aorta (DeBakey A), com presença de importante trombo em seu interior, estendendo-se até emergência de artéria subclávia esquerda que, juntamente com tronco braquiocefálico e carótida comum esquerda, apresentaram-se ectasiados. Foi diagnosticada neurossífilis após realização de punção lombar, tratada com Ceftriaxone. Encaminhado a hospital de referência, foi submetido a implante de tubo não valvado acima do plano das coronárias e pré-tronco braquicefálico. Apresentou dificuldade de saída da CEC – que durou 155’ – por disfunção do VD, sendo necessário uso de Adrenalina e Milrinona. Apresentou ainda FV no reaquecimento, tendo recebido dois choques com reversão do quadro. Evoluiu com rápido desmame de aminas, mantendo estabilidade hemodinâmica após menos de 48 horas.
A incidência de sífilis terciária diminuiu nas últimas décadas devido ao reconhecimento precoce da doença, à acessibilidade ao tratamento e à sensibilidade do patógeno aos antibióticos. Atualmente observa-se o retorno da sífilis primária e de suas complicações evolutivas tardias, principalmente em indivíduos jovens.
O ressurgimento da sífilis como endemia nos países em desenvolvimento pode significar que suas complicações cardiovasculares e neurológicas serão cada vez mais frequentes.
Clínica Médica
Faculdade de Medicina de Petrópolis - Rio de Janeiro - Brasil
Bruno Eduardo de Menezes Pequeno , Felipe Medauar Reis de Andrade Moreira, Carla Andrea Moreira Ferreira