“Leptospirose com endocardite: apresentação incomum ou pouco diagnosticada?”. Relato de Caso
Leptospirose é uma doença aguda e infecciosa, transmitida pela exposição à urina infectada. Manifesta-se desde uma síndrome febril aguda até um quadro íctero-hemorrágico. O acometimento cardíaco se dá principalmente como miocardite intersticial. A incidência da Leptospira como agente da endocardite infecciosa (EI) é rara (1%). Há 4 casos relatados.
Relatar um caso de EI secundária a leptospirose – primeiro descrito na América, importante no sentido de elucidar o comportamento clínico do paciente com acometimento cardíaco da leptospirose, a inespecificidade dos sintomas e lembrar a existência dessa rara associação, a fim de diagnosticá-la e tratá-la precocemente.
Paciente masculino, 23 anos, admitido 10 dias após acidente em águas de cachoeira com período de submersão, por quadro de febre, mialgia e epigastralgia que persistia desde o acidente. Exames laboratoriais revelaram leucocitose sem desvio a esquerda, função renal e hepática sem alterações, amilase e lipase normais, PCR 8,9 mg U/dL; LDH 690 U/L; CK-MB 11 U/L; troponina 0,012 ng/mL; eletrocardiograma sem alterações. Iniciada ceftriaxona 1 grama a cada 12 horas por suspeita de leptospirose e solicitado sorologia para investigação. O ecocardiograma transtorácico (ETT) evidenciou vegetação de 2 mm em folheto anterior da valva mitral, fechando um critério maior e um critério menor (febre >38ºC) dos critérios de Duke para possível EI. Coletadas hemoculturas seriadas que não demonstraram crescimento bacteriano e associou-se gentamicina ao esquema antibiótico. Após 7 dias, o ecocardiograma transesofagico mostrou prolapso do folheto anterior da valva mitral com lesão na face atrial medindo 4 mm de espessura com discreto refluxo e lesão de 3,8 mm de espessura em face ventricular do folheto não coronariano da valva aórtica.
Durante seguimento o paciente iniciou com episódio de tinnitus e hipoacusia unilateral. Solicitou-se ETT para verificar possibilidade de embolização, o qual demonstrou desaparecimento das vegetações. Sorologia para leptospirose positiva. Após 21 dias de Ceftriaxona em hospital, paciente foi liberado para completar o tratamento de 28 dias em domicílio.
Ainda que a EI associada à leptospirose seja rara, é importante considerá-la como uma das etiologias em situações oportunas. A terapia deve ser iniciada com base no julgamento clínico, pois a confirmação laboratorial pode ser retardada e a instituição precoce da terapia apropriada reduz a mortalidade.
Leptospirosis; Infective endocarditis;
Clínica Médica
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Paraná - Brasil
Gabriella Eduarda Jacomel, Ana Cláudia Portes Campos, Ana Caroline Martinelli, Cristiane Barausse Hass, Gibran Avelino Frandoloso