Paralisia periódica hipocalêmica tireotóxica e ataxia cerebelar secundária a hipertiroidismo: relato de caso
O hipertireoidismo está associado a uma série de distúrbios musculares e neurológicos. A paralisia periódica tireotóxica (PPT) e a ataxia cerebelar são complicações raras do hipertireoidismo, sendo a última mais associada ao hipotireoidismo.
Relatar caso de hipertiroidismo com complicações neurológicas;
G.R.P.C, masculino, 13 anos, há 1 semana iniciou queixa de fraqueza de membros inferiores, bilateral e simétrica. Ao exame, força muscular grau 4 e hiporreflexia em membros inferiores. Aos exames complementares: Ressonância magnética de crânio, coluna torácica sem alterações, eletroneuromiografia: polineuropatia periférica sensitivo motora de padrão axonal; TSH: 0,01 T4 livre: 1,62 K: 3,2. Aventado diagnóstico de PPT, iniciou tratamento com Tapazol 20mg 12/12h, propranolol 20mg 12/12h e KCl xarope 10ml 8/8h. Paciente evoluiu melhora dos sintomas, optado por tratamento ambulatorialmente para hipertiroidismo com iodo radioativo (¹³¹I). Após 5 dias do tratamento com iodo radioativo, procura atendimento devido fraqueza em membros inferiores. Ao exame, força muscular grau 4 e hiporreflexia em membros inferiores, associado a dismetria, disdiadococinesia, marcha ebriosa e instabilidade postural. Sem alterações aos exames de imagem. TSH: 0,00, T4L: 3,41, K: 2,1. Sugerido diagnóstico de ataxia cerebelar secundária a tireotoxicose, paciente recebe alta para acompanhamento ambulatorial evoluindo com melhora após 1 semana, permanecendo assintomático desde então.
Os sintomas mais comuns do hipertireoidismo são nervosismo, cansaço, palpitações, intolerância ao calor e perda de peso, podendo ainda apresentar-se com uma variedade de síndromes neurológicas, incluindo coreia e miopatia, e menos comumente com neuropatias periféricas. A PPT é caracterizada por episódios de fraqueza muscular e hipocalemia em vigência de tireotoxicose. Dentre os diagnósticos diferenciais, o principal é a paralisia periódica hipocalêmica familiar que possui as mesmas características clinicas e laboratoriais exceto pela ausência da tireotoxicose. A ataxia cerebelar, outra complicação rara, tem sido tipicamente reconhecida em associação com hipotireoidismo, mas não do hipertireoidismo. A maioria dessas complicações responde parcial ou totalmente à reposição de tiroxina, sendo a manutenção do paciente eutireoideo a melhor terapia.
Distúrbios da tireoide devem ser considerados nos casos de paralisia flácida e ataxia cerebelar, considerando a reversibilidade dos sintomas ao tratamento específico.
Clínica Médica
Hospital Regional de Mato Grosso do Sul - Mato Grosso do Sul - Brasil
Ricardo Eberhart Ribeiro da Silva, Mariana Costa Marques