SÍNDROME HEMOFAGOCÍTICA REATIVA NA GESTAÇÃO: RELATO DE CASO
A síndrome hemofagocítica (SHF) é uma entidade rara e grave, com apresentação variável, que apresenta diagnóstico baseado em conjunto de critérios, muitas vezes pouco sensíveis.
Relatar um caso de SHF fatal na gestação.
H.C.M.R., feminina, 32 anos, G2C1, gestante 22 semanas e 5 dias, procura Hospital Universitário com mialgia severa, coriza e dispnéia sem febre, em uso de osetalmivir há 4 dias. No mesmo dia, houve piora e surgiu hipóxia (saturação de O2 92-98%), requerendo O2 inalatório. Tinha leucocitose (38.590/mm3 sem desvio), com urocultura e hemoculturas negativas. A tomografia descartou tromboembolismo pulmonar e revelou opacidades e broncogramas aéreos difusos. Iniciou vancomicina e azitromicina e manteve oseltamivir. Pela suspeita de leucose, feito aspirado de medula óssea: normocelular com hiperplasia megacariocítica, e ultrassom de abdome (normal). Sorologias para HIV, hepatites, VDRL, FAN e fator reumatóide negativas.
No 3º dia, houve aumento da LDH (681 para 3.563U/L), queda da hemoglobina (11,9 para 2,5g/dL) e plaquetopenia (17.000/mm3), além de ferritina alta (15.702ng/mL). No mesmo dia, apresentou febre (37,9ºC), edema agudo de pulmão e insuficiência respiratória aguda; apesar das medidas, progrediu rapidamente para óbito. À necrópsia, encontrou-se hemofagocitose em baço, linfonodos, fígado e medula óssea.
A SHF cursa com ativação sistêmica de macrófagos benignos fagocitando células hematopoiéticas, com alta mortalidade. Pode ser primária (mais comum na infância) ou secundária (reativa), o se associa a muitas condições, mais comumente neoplasias e infecções virais. É subdiagnosticada devido à apresentação semelhante com outras patologias (sepse). As manifestações incluem febre, fadiga, perda de peso, pancitopenia, hepatoesplenomegalia, insuficiência hepática, e coagulação intravascular disseminada. O diagnóstico exige mutação genética específica, ou pelo menos 5 dos seguintes critérios: febre >38,5ºC, esplenomegalia, citopenia (hemoglobina <9g/dL, leucócitos <1000/mm3, plaquetas <1000/mm3), triglicerídeos >265mg/dL e/ou fibrinogênio <150mg/dL, hemofagocitose documentada, células NK baixas/ausentes, ferritina >500ng/mL, e aumento de CD25. No entanto, tais critérios, criados para uso em estudos, têm baixa sensibilidade, por isso sugere-se que a suspeita e o início do tratamento devem ser mais precoces (antes da presença de todos os critérios) para reduzir a mortalidade. O aspirado de medula óssea deve ser obtido, mas é pouco sensível.
síndrome hemofagocítica; critérios diagnósticos
Clínica Médica
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA - Paraná - Brasil
ISABELA MAYUMI NAKANISHI, ISABELA MARIA BERTOGLIO, MAISA MONSEFF RODRIGUES DA SILVA, RAQUEL FERREIRA NASSAR FRANGE, LEANDRO ARTHUR DIEHL