RELATO DE CASO: INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA NA DENGUE
A infecção pelo vírus da dengue causa uma doença de amplo espectro clínico, incluindo formas oligossintomáticas até quadros graves.
O objetivo desse trabalho é descrever um caso de dengue com rápida evolução para insuficiência respiratória.
S.S.F., feminino, 49 anos, procurou o pronto socorro com quadro de febre, astenia, mialgia, cefaleia, hiporexia, diarreia e exantema pruriginoso difuso há 3 dias. Não apresentava sinais de alarme. Era hígida, negava dengue prévia e possuía carga tabágica de 64 anos.maço. Hematócrito: 36, plaquetas: 180 mil. Solicitou-se antígeno NS1. Foi diagnosticado dengue sem sinais de alarme, com prescrição de hidratação oral, sintomáticos e retorno. Após 2 dias apresentou tosse seca e dispneia aos esforços. Estava em regular estado geral e desidratada. Ausculta pulmonar com sibilos difusos e saturação 96%. Devido à rápida evolução do quadro e ao exame radiológico (Figura 1), suspeitou-se de Influenza, com prescrição de Oseltamivir por 5 dias e pedido de exame. Após 6 horas evoluiu com insuficiência respiratória e choque, com rebaixamento do nível de consciência, desidratação, dispneia, cianose central, livedo reticular e edema periférico. Ausculta pulmonar com estertores crepitantes bibasais e sibilos. Pressão arterial 86x60, frequência cardíaca 115 bpm, saturação 88%. Apresentava aumento do hematócrito, plaquetopenia e leucocitose. A paciente foi intubada, estabilizada e transferida para cuidados intensivos. Apresentou 3 crises de broncoespasmo severo ao longo da internação. Teste para Influenza e culturas foram negativos, mas NS1 foi positivo, confirmando a dengue. Evoluiu bem após 15 dias de internação e recebeu alta com orientações.
Diante do diagnóstico de dengue, os sinais de alarme devem ser pesquisados, pois anunciam perda plasmática e iminência de choque. A paciente inicialmente não os tinha, mas piorou clinicamente após 48h, que é o tempo médio em que o extravasamento plasmático ocorre. Fatores que predispõem à dengue grave incluem uma segunda infecção com o vírus, genética, estado nutricional e comorbidades. Apesar de não tê-los, a paciente poderia possuir alterações pulmonares devido ao tabagismo, que agravaram o quadro e contribuíram com o broncoespasmo.
A dengue não possui terapia específica e o manejo da doença consiste em reposição volêmica e acompanhamento clínico, na tentativa de identificar precocemente seus sinais de alarme, e pronto atendimento diante da gravidade.
Clínica Médica
Hospital das Clínicas de Goiânia - Goiás - Brasil, Hospital de Urgências de Goiânia - Goiás - Brasil
Isabella Carvalho Oliveira, Mariana Barreto Marini, Laene Sousa Ribeiro, Flávia Castro Velasco