Síndrome do coração partido (Takotsubo): Diagnóstico diferencial da Síndrome Coronariana Aguda (SCA)
A miocardiopatia de Takotsubo (MT), descrito por Sato em 1990, caracteriza-se por dor torácica, disfunção transitória do VE com alterações eletrocardiográficas (ECG) e liberação discreta de enzimas mimetizando SCA.
O relato visa demonstrar um caso de MT como diagnóstico diferencial da SCA baseado na clínica e exames complementares.
Paciente feminino, 64 anos, chega a emergência relatando que após forte emoção iniciou dor toracica anterior, tipo queimação e aperto sem irradiação, duração maior que 20 minutos associado a náuseas. Ao exame físico, a paciente encontrava-se em regular estado, sudorese profusa e palidez acentuada. À ausculta cardíaca, apresentava bulhas rítmicas e taquicardia. À ausculta pulmonar, sons pulmonares audíveis sem ruídos adventícios em ambos hemitóraces. Obesidade grau I, pressão arterial de 170 x 90 mmHg, frequência cardíaca de 101 bpm, frequência respiratória de 24 irm e saturação de oxigênio 87% em ar ambiente. Antecedentes pessoais: Diabetes tipo II, hipertensão arterial, dislipidemia e valvuloplastia mitral biológica em 2015 por febre reumática.
Realizou cintilografia miocárdica há 5 meses, sem lesões isquêmicas ou acinesia. ECG realizado na admissão apresentava amputação de R (V1-V3) e alteração de repolarização com onda T simétrica e negativa em parede latero-inferior e septo baixo, elevação discreta das enzimas cardíacas, e ao ecocardiograma acinesia médio-apical global, com hipercinesia (compensatória) dos segmentos basais, disfunção sistólica segmentar VE grau moderado e prótese biológica em posição mitral normofuncionante. Foi realizado estudo das coronárias sem evidências de obstruções significativas e na ventriculografia esquerda havia volume diastólico aumentado e acinesia de toda região apical. Paciente recebeu alta no terceiro dia de internação, estável em uso de estatina, inibidor da enzima conversora da angiotensina, β-bloqueador, hipoglicemiante oral, insulina e encaminhamento ao cardiologista.
No caso haviam fatores de risco cardiovascular associado a sintomas isquêmicos, ECG e enzimas cardíacas que nos remetem a hipótese principal de SCA, porém alterações ecocardiográficas e a cineangiocoronariografia, nos confirma o diagnóstico através dos critérios de Mayo. O tratamento se baseia em medidas de suporte hemodinâmico, visto que as alterações são reversíveis. Os fatores de risco são variáveis, mas fortemente ligado ao estresse elevando catecolaminas e hiperestimulando a via simpática.
Clínica Médica
Hospital Universitário Getúlio Vargas - Amazonas - Brasil
Armando Hiroyuki Mori Júnior, Kátia Batista de Oliveira, Salwa Muhammad Musa Hamdan, Daniel Monteiro Queiroz