Homem de 79 anos com dificuldade para abrir a boca. Relato de caso.
O tétano é uma doença infecciosa aguda não contagiosa causada pelo Clostridium tetani. Sua letalidade depende, entre outros, da faixa etária do paciente, gravidade da forma clínica da doença, tipo de ferimento da porta de entrada, duração dos períodos de incubação e de progressão, presença de complicações, local onde é tratado e qualidade da assistência prestada. Clinicamente o paciente apresenta um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central caracterizado por hipertonia muscular mantida, hiperreflexia e espasmos ou contraturas paroxísticas. Nas formas mais graves ocorre hiperatividade do sistema autônomo simpático (disautonomia), com taquicardia, sudorese profusa, hipertensão arterial, bexiga neurogênica e febre. Tais manifestações agravam o prognóstico da doença. O diagnóstico é eminentemente clínico.
O objetivo do estudo é relatar um caso de tétano acidental, ainda frequente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Paciente do sexo masculino, 79 anos, com dificuldade em abrir a boca há 24 horas associada a disfagia. Diabético e com passado de infecção da prótese dentária. História de trauma com lesão corto-contusa no 5º quirodáctilo da mão direita 3 semanas antes. Na ocasião recebeu dose adicional da vacina antitetânica. No dia seguinte à internação apresentou episódio de opistótono e, em seguida, evoluiu com disautonomia e parada respiratória.
Estabelecido o diagnóstico de tétano, o paciente foi tratado com penicilina G cristalina e imunoglobulina humana antitetânica em ambiente de terapia intensiva. Submetido ao desbridamento cirúrgico do tecido desvitalizado da lesão na mão e à traqueostomia precoce. Controle difícil dos espasmos musculares e da disautonomia, necessitando de bloqueio neuromuscular e altas doses de sulfato de magnésio. Internação prolongada por diversas complicações inerentes ao doente crítico (polineuropatia e sepse pulmonar); recebeu alta hospitalar e segue acompanhamento domiciliar.
O tétano ainda é uma doença universal, a despeito de se tratar de doença prevenível com imunização adequada, de alta letalidade – de cada 100 pessoas que adoecem 30% morrem – e por isso é um importante diagnóstico diferencial a ser considerado. São de fundamental importância o tratamento adequado, os cuidados dispensados por equipe multidisciplinar experiente e o ambiente de terapia intensiva, onde existe o suporte técnico necessário ao seu manejo e das complicações, com consequente redução da morbi-mortalidade.
Clínica Médica
Hospital Samaritano - Botafogo - Rio de Janeiro - Brasil
João Marcelo Bazzarella Gomes Costa, Marcelo de Sousa Santino, Gilberto Daniel Luz, César Villela, Cyro José de Moraes Martins