Insuficiência renal aguda secundária a rabdomiólise por picada de abelhas em paciente amputado no extremo norte do Brasil: relato de caso
A intoxicação por himerópteros pode levar a anafilaxia e lesão orgânica, principalmente em rins, fígado e coração. A incidência exata no Brasil é incerta devido à subnotificação. A lesão renal é dose dependente (proporcional ao número de picadas) e é a mais frequente motivada pela ação tóxica do veneno e à rabdomiólise, que pode levar a insuficiência renal aguda (IRA), devido a mesma liberar na corrente sanguínea componentes derivados da lise celular, especialmente creatino-fosfoquinase.
Descrever um caso de intoxicação por picada de abelhas em paciente amputado em membro inferior esquerdo, que evoluiu com IRA dialítica, secundária a rabdomiólise.
Paciente do sexo masculino, 26 anos, com amputação em membro inferior esquerdo há 10 anos, foi admitido em uma unidade de emergência local, trazido por familiares, horas após ser atacado por um enxame de abelhas. Apresentou-se quadro de anasarca, inconsciente e inúmeras lesões cutâneas. No atendimento inicial foram administrados: Adrenalina, Hidrocortisona, Prometazina, Dexclorfeniramina, Ranitidina, furosemida e Oxacilina. Transferido para uma unidade de referência, em regular estado geral, consciente, orientado, eupneico, normocárdico, pressão arterial: 140x90mmHg, edema depressível e indolor em porções distais dos membros (2+/4+), lesões eritemato-crostosas disseminadas, astenia, mialgia, náusea, êmese e diurese com volume normal, acastanhada e odor forte. Referiu hipoacusia e zumbido com otoscopia normal e remissão espontânea. Foi mantida a Oxacilina, hidrocortisona e ranitidina e iniciado metronidazol e loratadina. Apresentou icterícia (+/4+) no quarto dia de internação que regrediu posteriormente, e hipocalemia assintomática corrigida intrahospitalar. Submetido a três sessões de hemodiálise, evoluiu com poliúria (diurese superior a 4000 ml/dia), recuperação da função renal e remissão dos demais sintomas. Recebeu alta hospitalar 13 dias após o acidente.
RELATO DE CASO
Acidentes com abelhas apresentam alta morbimortalidade, devido às manifestações tardias, em especial a lesão renal secundária a rabdomiólise e várias complicações sistêmicas. O melhor prognóstico desses pacientes consiste em intervenção precoce e suporte adequado, apresentando grandes chances de cura completa, dependendo da idade, comorbidades, quantidade de picadas e do tempo entre o acidente e a procura de serviço de saúde, principalmente na região norte, devido às inúmeras áreas de acesso remoto.
Clínica Médica
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ - Amapá - Brasil
Elton Gustavo Boralli Ribeiro, Felipe Noujeimi Gonçalves, João de Barros Neto, Julye Sampaio Fujishima, Nathália Barros Ferreira