PERICARDITE URÊMICA: RELATO DE CASO
Pericardite é manifestação grave e não tão incomum de síndrome urêmica, sendo esta etiologia descrita em até 20% dos pacientes em Terapia Renal Substitutiva (TRS), que evoluem com insuficiência renal aguda.
Relatar caso de paciente renal crônico, que evoluiu com pericardite urêmica, e discutir a manifestação clínica e o tratamento.
Estudo observacional do tipo relato de caso.
Paciente masculino, 23 anos, transplantado renal em 2009 por glomerulonefrite crônica (GNC), evoluindo posteriormente com disfunção do enxerto grave, devido a estenose de ureter, aguardando hemodiálise desde 2016. Iniciou quadro súbito de dor precordial em aperto, com irradiação para dorso, associado a dispnéia. Ao exame clínico, apresentava-se consciente, ausculta cardíaca e respiratória sem alterações, boa perfusão capilar periférica e sem edema de extremidades. Relatava melhora dos sintomas ao assumir posição genupeitoral (“prece maometana”). Eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações, evidenciando supradesnivelamento de segmento ST nas derivações V2, V3, V4, V5 e V6, além de taquicardia sinusal. Laboratorialmente,creatinina 17,53 (clearance CKD-EPI estimado de 3 ml/min/1,73m2); ureia 317; potássio 2,9; sódio 129; magnésio 1,42; ph 7,18 e um bicarbonato 8. Marcadores de necrose miocárdica negativos. Radiografia de tórax com área cardíaca normal e parênquima pulmonar homogêneo. A alta suspeição clínica pela sintomatologia clássica, anormalidades eletrocardiográficas e exames laboratoriais com evidência de disfunção renal aguda, foram fundamentais para aventar e confirmar a hipótese diagnóstica de pericardite urêmica. Paciente foi transferido para a terapia intensiva, sendo feito hemodiálise de urgência com resolução do quadro.
A pericardite associada à síndrome urêmica é doença relativamente comum em pacientes com agudização da disfunção renal de base, associada principalmente a hipervolemia e diálise inadequada. As manifestações clínicas e laboratoriais são similares às observadas em pacientes não urêmicos, exceto pela dor torácica que costuma apresentar-se com menor frequência nos pacientes renais crônicos terminais e pelo ECG não apresentar alterações típicas da pericardite aguda, isso por ausência de inflamação miocárdica. Nos pacientes que não se encontram em TRS, o aparecimento de pericardite urêmica constitui indicação para início dessa terapia, enquanto naqueles já dialíticos preconiza-se otimização da diálise.
dor torácica, pericardite, uremia
Clínica Médica
Daniella Cristina Brites Almeida, Sylvia Dias Turani, Ícaro Wiermann Braga, Fabiana Rocha Brito, Priscilla Delchova Brito