SÍNDROME DA APNÉIA OBSTRUTIVA DO SONO (SAOS): DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EM PSIQUIATRIA
Fundamentação/Introdução: A SAOS é um transtorno de prevalência alta e está relacionada à piora da qualidade de vida e aumento da morbimortalidade, mas freqüentemente é subdiagnosticada. Pode estar associada a sintomas neuropsiquiátricos, como quadros depressivos e demenciais.
Objetivos: Relatar o caso de um paciente com hipersonolência persistente, associada a comorbidades clínicas complexas. Evidenciar a necessidade da suspeita clínica da SAOS em indivíduos com sintomas psiquiátricos.
Descrição do Caso: Paciente J.S.C., sexo masculino, 85 anos, divorciado, médico aposentado, mora em Cláudio/MG. Paciente informa hipersonolência diurna intensificada há 5 anos, com oscilação do humor, irritabilidade, alteração de memória para fatos recentes e quadros confusionais recorrentes pela manhã. Nega outros sintomas depressivos. Há 22 anos, apresentou episódio depressivo grave, com tentativa de suicídio e boa resposta a Citalopram 20 mg. Comorbidades: Diabetes Mellitus tipo 2, insuficiência renal crônica estágio 3, dislipidemia, catarata, insuficiência arterial periférica, doença aterosclerótica coronariana, aneurisma de aorta abdominal, hipertensão arterial, câncer de próstata há 30 anos, ex-tabagista. Descreve dois acidentes prévios: um automobilístico e um de cavalo.História Familiar: 2 filhas com transtorno depressivo. Pais faleceram de Infarto Agudo do Miocárdio.
Exame físico: Aparência cuidada, cooperativo, parcialmente orientado, humor levemente irritável, crítica adequada.Triagem cognitiva: Avaliação Cognitiva de Montreal: 19/30, abaixo do esperado. Teste de funcionalidade: Pfeffer: 4/30, independente para atividades de vida instrumentais. Hipótese de comprometimento cognitivo leve: alteração cognitiva com funcionalidade preservada. Exames: Ausência de alterações em exames laboratoriais. Ressonância magnética de crânio com atrofia hipocampal e alterações de substância branca difusas graves. Polissonografia: SAOS grave. Índice de Apnéia e Hipopnéia 53.7 eventos/hora. Foi iniciado o uso do aparelho Continuous Positive Airway Pressure (CPAP). Paciente evoluiu com melhora da sonolência diurna, dos déficits mnemônicos e do humor irritável.
Conclusões/Considerações Finais: O paciente descrito apresentou boa resposta ao tratamento, o que trouxe melhora da qualidade de vida, redução do risco cardiovascular e de síndrome demencial. A suspeita clínica da SAOS deve ser realizada pelas diversas especialidades médicas, devido às repercussões graves da síndrome.
hipersonolência; transtornos cerebrovasculares; apnéia do sono
Clínica Médica
Marcela Guimarães Campos Carneiro, Giovana Carvalho Mol