TROMBOSE DE VEIA PORTA: RARA MANIFESTAÇÃO HEPATOBILIAR DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL - RELATO DE CASO
A trombose de veia porta (TVP) representa uma manifestação extra-intestinal grave e rara, que aumenta a morbidade e a mortalidade de pacientes com doença inflamatória intestinal (DII).
Enriquecer a literatura com um caso de tromboembolismo (TE) de veia porta decorrente de fatores menos usuais, o que leva a considerar que a DII representa um fator de risco isolado.
J.C.R.L, masculino, 67 anos, hipertenso, natural do RJ, interna com dor abdominal e hematoquezia intermitente há 2 anos, com piora nas últimas 48h. Ao exame físico apresenta massa abdominal em região hipogástrica. Realizado TC de abdome/pelve com presença de abscesso abdominal. Iniciado antibioticoterapia com ciprofloxacino e metronidazol por 9 dias, sendo necessária a troca para cefepime por mais 12 dias.
Apresentou colonoscopia feita antes da internação, realizada na vigência de diverticulite, sendo então a provável causa do abscesso. O laudo relatava colite erosiva em cólon descendente e doença diverticular pancolônica.
Diante do resultado optou-se por iniciar o tratamento com Mesalazina por forte suspeita de DII. Foram colhidas sorologias para hepatite B e C, pANCA, cANCA, ASCA, PSA, CA 19.9, CEA, alfafetoproteina, antifosfolipideo, TSH, anticardiolipina; todos negativos, com exceção do ASCA, aumentando a probabilidade do diagnóstico de DII.
Nesse período, paciente evoluiu com ascite e edema escrotal, realizado USG abdominal, com TVP. Duas paracenteses foram realizadas com liquido ascítico de celularidade normal e GASA compatível com hipertensão portal.
Foram realizadas TC de tórax/abdome/pelve para descartar hipóteses de cirrose hepática, esquistossomose, além de rastreamento negativo para neoplasias. Doppler venoso de MMII para afastar novas tromboses, negativo. EDA sem varizes esofágicas.
Iniciado anticoagulação e demais medidas sintomáticas com alta hospitalar.
O TE é uma complicação extra-intestinal rara da DII. Em portadores de DII mostrou risco de 3,4% e, durante as crises de atividade da doença, esse risco aumentou para 8,4%. Além disso, aqueles com DII em remissão têm também risco aumentado de TE venoso. Assim, outros fatores, além da inflamação, estão provavelmente envolvidos. Os doentes com DII apresentam anormalidades na coagulação que podem aumentar o risco de trombose, como trombocitose, aumento do fibrinogênio, do fator V e VII; além de níveis diminuídos de antitrombina. O tratamento da TVP deve ser feito com anticoagulantes, como a heparina de baixo peso molecular e warfarina.
Clínica Médica
Hospital Municipal Souza Aguiar - Rio de Janeiro - Brasil
Bárbara Botelho Schiavo Santos, Fernanda Nigri Almeida, Sulamita Santos Nascimento Dutra Messias , Juliana Rodrigues Garcia, Raíssa Barbosa Warrak