Pericardite purulenta complicada com choque séptico e tamponamento cardíaco em paciente imunocompetente: relato de caso
A pericardite purulenta é condição rara e potencialmente fatal. Na maioria das vezes, é secundária à disseminação direta de um foco infeccioso intratorácico. Os casos em que ocorre o acometimento primário do pericárdio são raríssimos. O tamponamento cardíaco e o choque séptico são as complicações mais graves.
Descrever caso clínico de pericardite purulenta em paciente jovem e imunocompetente, que se apresentou com choque séptico e tamponamento cardíaco. Não havia evidência de outro foco infeccioso.
Trabalho tipo relato de caso.
Paciente do sexo masculino, 42 anos, previamente hígido, procurou o serviço de urgência devido ao quadro de dor precordial contínua, que piorava ao decúbito, dispneia, tosse produtiva e febre. Tratado como pneumonia comunitária, com melhora parcial dos sintomas. Entretanto, evoluiu com piora da dispneia e dor torácica e procurou novamente assistência médica, quando se aventou o diagnóstico de pericardite, devido à elevação difusa do segmento ST em eletrocardiograma. O paciente foi transferido à unidade de terapia intensiva, onde se apresentou com choque séptico, disfunção orgânica múltipla e sinais de tamponamento cardíaco ao ecocardiograma. Ao exame físico, não foram detectados atrito pericárdico, pulso paradoxal ou ingurgitamento da jugular. A radiografia de tórax mostrava aumento da área cardíaca, sem alterações pleuropulmonares. O paciente evoluiu com parada cardiorrespiratória, prontamente revertida. Após ressuscitação volêmica, início de antibióticos e pericardiocentese, com drenagem de 150 mL de secreção purulenta, o paciente foi encaminhado ao bloco cirúrgico e submetido à pericardiotomia. Nenhum microrganismo foi isolado das hemoculturas e líquido pericárdico. O paciente evoluiu com resolução do choque e disfunções orgânicas.
A pericardite purulenta é uma infecção rara e fatal quando não tratada. Na maioria dos casos, outro foco infeccioso está presente, geralmente pleuropulmonar, e se encontra algum fator predisponente, como imunossupressão, cirurgia ou trauma torácicos. Representa um desafio diagnóstico, que requer alta suspeição clínica, pois a apresentação clínica é variada e pode ser inespecífica. O caso descrito se apresenta como muito raro, devido à infecção primária do pericárdio em paciente jovem e previamente hígido. Apesar de ausentes os sinais clínicos de tamponamento cardíaco, a dor torácica e os achados eletrocardiográficos característicos da pericardite conduziram ao diagnóstico.
Clínica Médica
Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil, Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves - Minas Gerais - Brasil
Rafael Valério Gonçalves, Valdirene Silva Siqueira, Filipe Otavio Chaves Duarte, Marco Aurélio Fagundes Angelo, Fernando Antônio Botoni