Mielite Lúpica: Relato de Caso
A mielite representa uma das manifestações neuropsiquiátricas mais raras do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). Geralmente se apresenta com fraqueza súbita de membros inferiores associada ou não a diminuição de sensibilidade e descontrole de esfíncteres. No LES, os quadros neurológicos como este estão mais frequentemente relacionados a doenças infecciosas ou vasculares.
O diagnóstico é clínico, laboratorial e através de Ressonância Magnética (RNM). É fundamental a punção liquórica para afastar infecções do sistema nervoso central.
O tratamento é realizado com metilprednisolona e ciclofosfamida.
Instigar os clínicos a suspeitarem do LES como doença de base em caso de quadros de mielopatia.
Relato de caso.
KBN, 48 anos, feminina, negra, não tabagista, diagnosticada com LES em 2015, quando iniciou uso de prednisona. Esta foi sendo reduzida gradualmente até a completa suspensão em Outubro/2016. A partir deste mês começou a haver parestesia, paresia, câimbras, movimentos involuntários, fraqueza muscular e contrações em membro superior e inferior esquerdo, além de disestesia no membro superior direito. As manifestações ocorriam inclusive durante o sono, eram agravadas pela deambulação e deflagradas à flexão do pescoço. Em Novembro, evoluiu com urgência miccional associada a piora do quadro neurológico.
Ao exame físico identificada alteração de sensibilidade à direita, hiperreflexia e hemidistonia em dimídio esquerdo.
RNM de coluna cervical evidenciou lesão intramedular, compatível com mielite, estendendo-se do corpo vertebral de C2 a C3-C4. Os exames laboratoriais revelaram anticorpo lúpico, VHS, PCR, C3 e C4 dentro da normalidade.
Fez uso de metilprednisolona 1g/dia por cinco dias seguida de prednisona 1mg/kg/dia e ciclofosfamida 1100mg/dose mensal com proposta de manutenção por seis meses.
Recebeu alta com diminuição da frequência dos sinais e sintomas, no entanto, a intensidade persistiu assim como a necessidade de deambulação com apoio. Mantido acompanhamento com Neurologista e, em Fevereiro de 2017, ainda persistia com espasmos musculares secundários a marcha, parestesia em membro inferior esquerdo e hipoestesia a direita.
A mielite é uma doença rara, de rápida evolução e prognóstico desfavorável se não tratada adequadamente. É importante o conhecimento desta entidade médica e sua associação com o LES para que o tratamento possa ser instituído celeremente.
Lúpus Eritematoso Sistêmico, Mielite, Lúpus Neuropsiquiatrico
Clínica Médica
Hospital da Polícia Militar - Minas Gerais - Brasil
Natália Silveira de Paiva, Camila Ribeiro Milagres, Cecília Oberlender, Renata Diniz Rabelo Ferreira, Leila Patricia Muniz