Síndrome de Guillain-Barré associada à infecção por Zika Vírus: Relato de Caso.
O Zika vírus (ZKV) causa uma doença auto-limitada e comumente benigna, mas recentemente evidenciou-se forte associação com a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), que é o objetivo deste relato.
Este trabalho propõe relatar um caso de Guillain-Barré relacionado à infecção por Zika Vírus.
Paciente masculino, 14 anos, previamente hígido, admitido em uma unidade de emergência de Cuiabá, com quadro evolutivo de 4 dias de fraqueza progressiva bilateral e simétrica de membros inferiores, dificultando a marcha. Referiu-se que 28 dias antes apresentou febre, artralgias e rash cutâneo pruriginoso, diagnosticado por exames como infecção por ZKV. O exame físico confirmava perda de força e abolição de Reflexo Aquileu e Patelar. Seguiu-se a avaliação clínica com exames gerais, tomografia de crânio e coleta de líquor. A propedêutica inicial apresentou-se normal, exceto pelo líquor com intensa proteinorraquia, porém sem celularidade e com glicose normal. Na ocasião, não foi realizada imunoglobulina. Recebeu alta após uma semana de internação. Após um mês, na consulta no ambulatório de neurologia, mostrava melhora do déficit, mas sem melhora da marcha. O paciente está em acompanhamento.
Sabe-se que a associação entre a SGB e o ZKV é algo recente. A incidência de SGB na população geral está em 4 casos por 100.000 habitantes, quando nesta equação entra a infecção pelo ZKV, este número passa para 2.4 em cada 10.000 habitantes. No Brasil, em 2015, houve aumento da incidência de SGB, provavelmente pelo aumento de casos de ZKV. O paciente relatado teve início dos sintomas após 28 dias da infecção pelo Zika, isto é, acima da média descrita em alguns trabalhos. Já a clínica contou com a apresentação clássica, marcada pelo déficit neurológico bilateral e simétrico. Ademais, havia dissociação proteíno-celular, que é uma alteração liquórica característica e notória, já que em 67% dos casos ocorre com cerca de uma semana de evolução da doença. Não foi realizada imunoglobulina nem plasmaférese, modalidade de tratamento bem estabelecida na literatura visando acelerar a recuperação dos pacientes. Outrossim, a história natural da doença mostra que na maioria dos casos há progressão do dano neurológico em duas semanas, estabiliza entre duas a quatro semanas, e passa para recuperação.
Em suma, este caso comprova a relevância da associação entre a infecção pelo ZKV e a SGB, constituindo importante fator de risco a ser observado durante a avaliação dos pacientes com quadro de Paralisia Flácida Aguda.
Síndrome de Guillain-Barré. Zika Vírus. Paralisia Flácida Aguda.
Clínica Médica
Alzira Nobuko Nuchiyama, Luiz Eduardo Mendonça Tenório, Fernanda Botti Lotufo, Stéfani Pellissari da Costa Ribeiro, Ingrid Bibiano Rodrigues Sanches