Pielonefrite complicada com perfuração renal por cateter duplo J
As infecções do trato urinário podem ser divididas em cistites e pielonefrites. A maioria das infecções urinárias são consideradas não complicadas em adultos hígidos. As infecções complicadas geralmente estão associadas a uma doença subjacente, com aumento no risco de falha terapêutica.
Relatar o caso de um paciente com pielonefrite complicada, com implante de cateter duplo J e, posteriormente, perfuração renal pelo cateter.
Homem, 57 anos, procurou o pronto-socorro por queixa de dor abdominal súbita e contínua, mais forte à direita, e disúria com quatro dias de evolução. Ao exame, paciente encontrava-se taquicardico, febril (38,1o) e taquipneico. Os exames laboratoriais demonstraram leucocitose e infecção urinária, com crescimento de K. Pneumoniae à urocultura. Durante investigação ultrassonográfica evidenciou-se uma dilatação do sistema pielocalicial à direita, tendo sido implantado cateter duplo J. Iniciada antibioticoterapia com imipenem, posteriormente associado à polimixina. Mesmo após intervenção com duplo J e antibioticoterapia apropriada, paciente persistia sintomático e febril. Devido à persistência dos sintomas foi solicitada uma tomografia de aparelho urinário que demonstrou pielonefrite à direita com múltiplos abscessos e perfuração renal pelo cateter. Paciente foi então submetido à nefrectomia, evoluindo bem após o procedimento.
Os pacientes com pielonefrite complicada podem se apresentar com sepse, disfunção de múltiplos órgãos, choque e insuficiência renal aguda. Em alguns casos, a pielonefrite complicada pode estar associada com semanas a meses de sinais e sintomas não específicos e insidiosos, como mal-estar, fadiga, náusea ou dor abdominal. Pacientes com essa condição podem apresentar abscessos renais corticomedulares, abscessos peri-renais, pielonefrite enfisematosa ou necrose papilar. Antibióticos de largo espectro parenterais devem ser utilizados para o tratamento empírico de pielonefrite complicada, pacientes com doença moderada podem ser tratados com cefalosporinas de terceira geração ou fluoroquinolonas, já pacientes com doença grave podem ser tratados com agentes com maior cobertura, como os carbapenemicos.
Nosso paciente apresentou um quadro de pielonefrite complicada, evoluindo com perfuração renal após implante do cateter duplo J, uma complicação rara mesmo em pacientes que apresentem rins friáveis devido à infecção subjacente.
Clínica Médica
Hospital Santa Isabel - Santa Catarina - Brasil
Maurício Felippi Sá Marchi, Eduarda Raquel Przygoda Alves, Helena Valle Pezzini, Marianne Ramos Lima Silva