SÍNDROME DE PICKWICK: ABORDAGEM INTENSIVA DE COMPLICAÇÕES GRAVES E EVOLUÇÃO EXPRESSIVA
A Síndrome de Pickwick ou Síndrome de hipoventilação alveolar crônica associada a obesidade caracteriza-se clinicamente por sonolência excessiva, cianose, ronco faringiano, apneia do sono, dispneia aos mínimos esforços, distúrbios de humor e atenção em um indivíduo obeso. O diagnóstico é frequentemente realizado durante internação por insuficiência respiratória ou outra complicação grave, com acidose respiratória, hipóxia significativa, hiperglobulia e quadros clínicos secundários a essas condições.
Considerando a obesidade a principal doença e fator de risco para outras patologias na atualidade, este trabalho tem como objetivo suscitar discussão acerca da fisiopatologia dessa síndrome, ilustrada pelo relato de um caso típico, com complicações importantes, mas com resposta expressiva frente ao tratamento intensivo instituído.
Masculino, 41 anos, motorista de ônibus, diabético, hipertenso, com obesidade grau III (IMC: 41,4 Kg/m2), admitido por hemianopsia heterônima bitemporal, mais importante à direita. Durante internação e ampla investigação conclui-se o diagnóstico da Síndrome de Pickwick, além de graves complicações da mesma, incluindo hiperviscosidade secundária à poliglobulia com consequente acidente vascular encefálico de região de sulco calcarino à esquerda, além da acidose respiratória primária crônica compensada, refratária a ventilação não invasiva (VNI). Como estratégias intensivas, sangrias terapêuticas, anticoagulação plena heparina seguida por warfarina, intubação orotraqueal seguida de traqueostomia pela intolerância inicial e falta de resposta à VNI.
Após 2 meses da internação, foi gradualmente decanulado e acoplado VNI noturna com pressão positiva, com melhora significativa dos parâmetros gasométricos e resolução total do quadro neurológico visual comprovada por campimetria. Após 2 anos, em uso de VNI noturna e apenas com mudanças no estilo de vida, sem medicações ou intervenções especificas para perda de peso, reduziu 40 kg (IMC atual: 29 Kg/m2), com melhora dos controles pressóricos, parâmetros laboratoriais, mas principalmente da qualidade de vida, com retorno a sua atividade laboral.
O caso ilustra a importância do diagnóstico adequado, da implementação de terapêutica apropriada, por vezes intensiva, tratando de complicações agudas e minimizando sequelas, mas principalmente quebrando o “ciclo vicioso” fisiopatológico no elemento crônico essencial da síndrome, a obesidade.
Síndrome de Pickwick; Hipoventilação; Apneia; Obesidade; complicações; tratamento.
Clínica Médica
Faculdade Faceres - São Paulo - Brasil, Hospital Austa - São Paulo - Brasil
Isabelle Guerreiro Machado, Natália Silva Mazetti, Ronaldo Gonçalves Silva, Carolina Colombelli Pacca