Chagoma cerebral pós transplante cardíaco
A Doença de Chagas é uma doença considerada endêmica nos países da América Latina, atualmente afetando cerca de 12 a 14 milhões de pessoas. É uma das principais causas de transplante em países subdesenvolvidos, em virtude do envolvimento cardíaco com desenvolvimento de miocardiopatia dilatada. Como complicações neurológicas, temos a presença de meningoencefalite ou, em casos de pacientes imunossuprimidos, o granuloma chagásico.
Relatar um caso de paciente pós transplante cardíaco que apresentou granuloma chagásico após ser submetido à transplante cardíaco.
Paciente masculino, 53 anos, proveniente de Presidente Getúlio, interior de Santa Catarina. Histórico de miocardiopatia chagásica, devido à infecção durante a infância. Paciente com insuficiência cardíaca estádio IV e fração de ejeção de 15% ao ecocardiograma, internado para realização de transplante cardíaco. Cirurgia realizada sem intercorrências, teve alta hospitalar com plano de seguimento ambulatorial. Após um ano paciente foi novamente admitido por piora do quadro neurológico, com rebaixamento do nível de consciência, déficit motor à direita, confusão e febre. Tomografia de crânio revelou hipodensa, com realce periférico pelo meio de contraste, na topografia do hipotálamo e quiasma óptico, à esquerda. Realizada biópsia da lesão, que confirmou tratar-se de um granuloma chagásico. Devido ao diagnóstico paciente recebeu tratamento com benzonidazol por 7 meses, com melhora parcial no tamanho das lesões aos exames de imagens e melhora clínica relevante.
A cirurgia cardíaca no caso de pacientes no estágio final de miocardiopatia se tornou uma alternativa com diversos benefícios. Entretanto, as desvantagens após o transplante não podem ser desconsideradas. O período de imunossupressão obrigatório ao qual o paciente é submetido para que a rejeição ao órgão não ocorra, pode levar a reativação da doença de chagas. Essa reativação é encontrada também em pacientes com AIDS e os sintomas da reativação são diversos, como febre, cefaleia, convulsões, vômitos e déficits neurológicos focais.
A reativação pode ser fatal, sendo assim, a atenção por parte da equipe médica no acompanhamento e observação destes pacientes é extremamente necessária, especialmente no período pós transplante. Após diagnóstico e tratamento, nosso paciente evoluiu com melhora parcial no tamanho das lesões e melhora clínica significativa.
Clínica Médica
Hospital Santa Isabel - Santa Catarina - Brasil
Maurício Felippi Sá Marchi, Eduarda Raquel Przygoda Alves, Bruna Amelia Silva, Marcelo Mendes Farinazzo, Marcos Vinícius Claussen Moura