Lúpus eritematoso sistêmico grave após infecção pelo vírus Chikungunya
A febre de Chikungunya é uma doença emergente, com casos autóctones detectados no Brasil desde 2014. É considerada um importante problema de saúde pública, com grande morbidade e potencial de incapacidade funcional pelo acometimento inflamatório articular, que pode evoluir com cronicidade, impactando na qualidade de vida e capacidade laboral do paciente. É bem conhecida a associação de infecções virais como “gatilho” para o desenvolvimento de algumas doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES).
Relatar um caso onde é sugerido nexo causal entre febre de Chikungunya e LES.
Relato de caso
N.O.A., 31 anos, feminino, com manifestações clínicas iniciadas em outubro de 2016 com cefaleia, náuseas, febre, poliartrite, quando foi medicada com sintomáticos. Evoluiu em dezembro de 2016 com anemia, plaquetopenia, além de eritema máculopapular difuso, eritema malar, alopecia e úlceras orais. Apresentava sorologias para Chikungunya imunoglobulina G (IgG) positivo e imunoglobulina M (IgM) negativo; fator antinuclear (FAN), anticardiolipina IgG e IgM e anti-DNA positivos; consumo de fatores do complemento e elevação de provas de atividade inflamatória. Portanto, o paciente preenchia critérios classificatórios para LES pela American College of Rheumatology (ACR) e pelo Systemic Lupus International Collaborating Clinics (SLICC). Evoluiu posteriormente com lesões vasculíticas em membros inferiores, diminuição de sensibilidade e força em membro inferior direito, além de queixas visuais cujo exame oftalmológico revelou vasculite retiniana. A eletroneuromiografia evidenciou polineuropatia sensitivo motora de predomínio axonal e sensitivo assimétrica. Não apresentava sinais clínicos e laboratoriais de nefrite ou envolvimento de sistema nervoso central. Tendo em vista o acometimento neurológico periférico, possivelmente associado a vasculite da vasa nervorum e a presença de vasculite retiniana, optou-se pelo tratamento pulsoterápico com glicocorticóide e imunossupressão com ciclofosfamida em pulsos mensais nos seis meses seguintes.
O caso descrito expõe a possível participação do vírus Chikungunya como agente ambiental implicado no desenvolvimento de doenças autoimunes potencialmente graves. Como se trata de uma doença relativamente nova em nosso país, temos ainda pouca experiência na condução de casos atípicos. Encontram-se na literatura relatos de casos semelhantes, mas ainda pouco se sabe sobre a evolução e prognóstico de tais pacientes.
Medicina, Reumatologia, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Vírus Chikungunya, Autoimunidade
Clínica Médica
SEMUSA-FMS Macaé - HSJB - Rio de Janeiro - Brasil
Nayara Ramos Antelo, Flavio Ribeiro Pereira, Rayla Felizardo Oliveira Marques, Fernando De Almeida Marques, Vivian Garcia Moreira