Pericardite chagásica decorrente da transmissão oral do Trypanossoma cruzzi na Amazônia brasileira: relato de caso
Introdução: O Trypanossoma cruzi pode ser transmitido por via oral habitualmente através de seu ciclo endêmico primitivo, por meio da ingesta de alimentos contaminados com triatomíneos ou com suas dejeções. Tal situação é muito comum na região amazônica, talvez pela não adoção de boas práticas de higiene na manipulação dos alimentos ou pela invasão humana de habitats silvestres elevando os riscos associados à proximidade de vetores e reservatórios silvestres.
Objetivos: Descrever um caso de pericardite chagásica decorrente da forma aguda de doença de Chagas ocorrido no estado do Acre.
Descrição do caso: Homem, 29 anos, trabalhador rural, proveniente de Feijó, Acre, cerca de um mês antes da internação hospitalar fez ingesta de açaí e caldo de cana artesanais, e aproximadamente uma semana após, iniciou quadro de febre e calafrios, tontura, náuseas, hiporexia, dispneia associada à tosse seca, mialgia, artralgia e dor abdominal. Procurou atendimento em um posto de notificação de malária em Feijó-Acre, coletando gota espessa na qual se visualizou o T. cruzi. Foi atendido no Hospital Geral de Feijó, onde se iniciou Benzonidazol no momento do diagnóstico, sendo transferido para a capital Rio Branco para o Hospital das Clínicas, referência para doenças infecciosas e parasitárias. Ao chegar estava apresentando dor torácica leve ventilatório-dependente, taquicardia e taquipneia. Eletrocardiograma: ritmo sinusal com baixa voltagem de complexo QRS em plano frontal e alterações difusas de repolarização ventricular. Ecocardiograma: derrame pericárdico moderado, regurgitação leve valvar mitral e insuficiência leve de valva tricúspide com hipertensão arterial pulmonar leve.
Iniciou-se Ibuprofeno em dose anti-inflamatória durante três dias. Realizou-se um segundo ecocardiograma 8 dias após o uso do antinflamatório, o qual estava normal. Evoluiu em condições de acompanhamento ambulatorial com programação de término do esquema padrão de Benzonidazol e Ibuprofeno. Durante o acompanhamento ambulatorial detectou-se que a fração IgG para doença de Chagas permaneceu negativa, mostrando a cura da parasitose.
Conclusões: O presente relato vem para demonstrar a importância da preparação técnica dos microscopistas para diagnosticar T. cruzi nas lâminas gota espessa para o diagnóstico de malária em zonas endêmicas da doença. Evidencia também manifestações clínicas típicas das formas agudas da doença, que servem para alertar os profissionais de saúde.
Palavras-chave: doença de Chagas; triatomíneo; Trypanossoma cruzzi; transmissão oral.
Clínica Médica
André Leonam Lopes Isquierdo, Fernanda Cavalcante Rodrigues, Hellen Caroline de Oliveira Pereira, Rita do Socorro Uchôa da Silva