A Neurocriptococose no Extremo Norte do Brasil: um relato de caso.
A Criptococose é uma doença infecciosa causada por fungos do gênero Cryptococccus sp. e incide em países de regiões tropicais e subtropicais. O agente é encontrado notadamente em centros urbanos e em diferentes espécies de aves, preferencialmente pombos. No Brasil, observa-se a presença das duas vertentes do fungo (C. neoformans e C. gattii) que mantém relação direta ou indireta com o sistema imune do hospedeiro, manifestando-se em diferentes locais no organismo, sendo o Sistema Nervoso Central o local de maior tropismo deste patógeno. Em Roraima, há relatos confirmados de infecção pelas duas variantes desse tipo de levedura ovalada em indivíduos saudáveis e imunocomprometidos.
Contribuir clínica e epidemiologicamente para o conhecimento médico acerca de Neurocriptococose a partir de um caso confirmado no Hospital Geral de Roraima.
J.J.A.L, sexo masculino, 56 anos, casado, procedente do bairro Caranã em Boa Vista-RR, hipertenso e diabético, pneumopata crônico há 6 anos (Pneumonite de Células Gigantes) em uso de corticoesteroides em dose imunossupressora (Prednisona >1mg/kg/d) iniciou quadro de tosse produtiva associada a cefaleia holocraniana intensa diária, sem sinais de meningismo ou febre com evolução de 14 dias. Após rebaixamento do nível de consciência, foi internado e submetido a rotina laboratorial, sorológica (HIV: soro não reagente) e punção liquórica, a qual selou diagnóstico de neurocriptococose, instituindo-se terapêutica com Anfotericina B isolada.
Ao longo da internação, apresentou episódios de confusão mental, alteração do ciclo sono-vigília, vertigem objetiva e fraqueza em membros inferiores, fato que motivou realização de exames de imagem (RNM, TC de crânio), entretanto, sem alterações estruturais encefálicas. Devido manutenção do quadro, optou-se por associar Fluconazol ao esquema, com melhora clínica neurológica. Posteriormente, realizou-se nova punção lombar sem evidências do patógeno. Hoje, paciente permanece internado sob esquema terapêutico, sem previsão de alta hospitalar.
O surgimento da Neurocriptococose neste paciente pode ser explicado devido a presença de fatores de risco inerentes ao hospedeiro (diabético, imunossuprimido) e ao ambiente (bairro localizado na Zona Oeste da capital com numerosa população de pombos). Trata-se, portanto, de um problema de saúde pública que necessita de medidas intervencionistas para reduzir a exposição dos moradores a esse patógeno.
Clínica Médica
Universidade Federal de Roraima - Roraima - Brasil
Lucas Gomes, Iago Fernando Rodrigues, Hiago Tomaz Araújo, Fernando Oliveira, Nilson Nascimento