Hepatite por Albendazol: relato de caso
A hepatite medicamentosa com ictericia e elevação das transaminases podem mimetizar muitas doenças hepato biliares. O diagnóstico exige um elevado grau de suspeita e a exclusão cuidadosa de outras causas de hepatites.
Relato de caso de hepatite medicamentosa por Albendazol.
Relato de caso.
MPRM, feminino, 22 anos, caucasiana, hígida. Fez uso de Albendazol, sem orientação medica e iniciou dor abdominal intensa e difusa, náuseas, vômitos, icterícia e febre. Apresentou melhora com sintomáticos. Após 15 dias tomou segunda dose do Albendazol e apresentou os mesmos sintomas, porém com icterícia mais acentuada.
Ao exame físico paciente com bom estado geral. Icterícia importante da pele e mucosas. Sem sinais de encefalopatia ou de hepatopatia crônica. Apresentava dor à palpação abdominal no hipocôndrio direito. Sem alterações nos demais sistemas. Os exames laboratoriais evidenciaram tempo de protrombina de 43,9 segundos para um controle de 1,54 segundos. Bilirrubina total de 15.04 mg/dl, 12.63 mg/dl de conjugada e 2.41 de não conjugada. TGO e TGP 38 e 42 vezes os limites superiores do normal. Fosfatase alcalina e gama-GT pouco aumentados.
Sorologias para vírus das Hepatites A, B e C (Ac anti HAV; Ag HBs, Ag Hbe, Ac anti HBc Ig M e Ig G, Ac anti HBs; Ac anti HCV), citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, HIV e leptospirose negativas. Anticorpos anti-nucleares, anti-músculo liso, anti-mitocôndriais, anti-microssomais, anti LKM1, ANCAs e FAN negativas. Ferritina de 2302,5, ng/ml, ceruloplasmina, cobre séricos e urinário normais. A ecografia abdominal evidenciou espessamento difuso e delaminaçao da parede biliar. A ressonância magnética abdominal mostrou aumento difuso pâncreas e discreto edema periportal hepático.
Durante a internação, a paciente apresentou melhora gradual da ictericia, coluria, acolia fecal e do quadro álgico. As enzimas hepáticas diminuíram.
Excluidas outras causas, o diagnóstico foi de hepatite medicamentosa por Albendazol. Embora aumentos transitórios das aminotransferases seja um efeito adverso comum, a prevalência de hepatite por esta droga é <1%. Portanto, é preciso enfatizar cautela no consumo de medicamentos sem prescrição médica, considerando que podem apresentar efeitos colaterais, por vezes graves. Nesse caso, a doença hepática aguda poderia ser evitada. Dado seu uso freqüente, salientamos a importância de alertar os profissionais de saúde quanto ao potencial risco de hepatotoxicidade do Albendazol e o risco do uso empírico dessa medicação.
Clínica Médica
HOSPITAL MATER DEI - Minas Gerais - Brasil
AUREA THATHIA FONSECA GONCALVES, ALICE TERLY ROELENS, SAMUEL DA CUNHA PEREIRA NETO