Enxaqueca hemiplégica familiar com hemianestesia permanente
A Enxaqueca Hemiplégica Familiar (EHF) é um subtipo incomum de enxaqueca com aura, de caráter autossômico dominante e penetração variável. Sua prevalência estimada é de 0,01%, sendo as mulheres mais afetadas e a faixa etária em que os sintomas se iniciam compreendida entre 12 e 17 anos. O diagnóstico depende de critérios estabelecidos na terceira Classificação Internacional de Cefaleias (2014), entretanto é aceito que déficits neurológicos permanentes ocorram ocasionalmente.
Descrever um caso de EHF com apresentação distinta, em que o déficit sensitivo não regrediu, com o objetivo de despertar a atenção de especialistas para casos atípicos.
Mulher, 48 anos, admitida com quadro de mal-estar, seguido de sensação de "cabeça vazia", lentificação de pensamento, cefaleia hemicraniana à direita, pulsátil e de forte intensidade. Evoluiu com perda de consciência transitória seguida de desorientação têmporo-espacial, sonolência, hemiparesia à esquerda e afasia.
Relatava duas crises prévias semelhantes e outras crises mais brandas com frequência de até 3 vezes ao ano. Em uso de AAS e sinvastatina, devido suspeita diagnóstica de acidente vascular cerebral isquêmico. Na ocasião da primeira crise, há 4 anos, permaneceu com hemiparesia à esquerda por cerca de 9 meses com reversão gradual e hemianestesia à esquerda sem melhora até o presente momento. Trazia exames de neuroimagem realizados nos últimos 4 anos para elucidação diagnóstica, sem alterações. Na história familiar, referia que o pai e um irmão apresentavam episódios análogos.
Ao exame neurológico, apresentava desvio de rima e língua para o lado esquerdo, hemiparesia (membro superior esquerdo força motora grau II e membro inferior esquerdo força motora grau I) e hemianestesia à esquerda. Reflexos simétricos e preservados. Tomografia computadorizada (TC) de crânio foi solicitada e não evidenciou alterações, bem como exames laboratoriais.
Diante do diagnóstico de EHF, foi encaminhada ao ambulatório de Neurologia para seguimento, sendo prescrito verapamil e ácido valproico. Evoluiu com melhora gradativa da fala e déficit motor, sem retorno das crises até o presente momento.
A falta de conhecimento médico pode levar a displicência e desqualificação das queixas do paciente. Tendo em vista que o diagnóstico é eminentemente clínico, é imperativo que uma boa anamnese seja realizada diante de quadros semelhantes a fim de se evitar iatrogenias.
Hemiplegia.Transtornos de enxaqueca. Enxaqueca com aura. Genética.
Clínica Médica
Aline Bonora Oliveira, Vanessa Carvalho Lago, Jorge Fernando Miranda Pereira, Wilson Gonçalves Silva Junior, Guiomar Nascimento Oliveira