Acidente vascular encefálico criptogênico em paciente com leucemia mielóide crônica: a culpa é sempre do átrio?
Introdução: Cor triatrium (CT) é uma doença caracterizada por uma membrana fibromuscular que divide o átrio em duas câmaras de origem congênita devido a uma falha na absorção da veia pulmonar comum durante formação do coração, que se manifesta principalmente na infância com quadro clínico semelhante da estenose valvar mitral. Eventos tromboembólicos também são descritos, e sua ocorrência pode ser a primeira manifestação dessa condição. As neoplasias mieloproliferativas também podem ocasionar eventos trombóticos, como a policitemia vera e trombocitemia essencial, sendo tais eventos incomuns nos casos de Leucemia Mielóide Crônica (LMC), principalmente nos casos controlados.
Objetivo: Relatar os desafios na investigação e terapêutica de um caso de AVC criptogênico em um paciente adulto portador de LMC.
Relato de caso: F. V. E. D. S., masculino, 45 anos, portador de LMC há 20 anos tratado com Nilotinibe, em remissão molecular (BCR/ABL < 0,01) e sem outras comorbidades, evoluiu com acidente vascular cerebral isquêmico com características embólicas. Na investigação da causa, doppler colorido de artérias carótidas e vertebrais normais. Ecocardiograma transesofágico com doppler evidenciou membrana no átrio esquerdo disposta horizontalmente desde o septo interatrial até a parede lateral da cavidade com dois orifícios de 9 mm e 5,8 mm de diâmetro, sugestivo de cor triatrium sem evidência de trombos ou de aumento do tamanho atrial.
O paciente recebeu anticoagulação com Varfarina, evoluiu sem complicações isquêmicas ou hemorrágicas e manteve o tratamento farmacológico para LMC além do tratamento conservador para o cor triatrium.
Conclusão: O cor triatrium é uma malformação congênita rara com uma membrana fibromuscular que divide o átrio em duas câmaras. A manifestação clínica é semelhante àquela da estenose mitral, incluindo os fenômenos embólicos. O diagnóstico ocorre apenas por exames de imagens como ecocardiograma transesofágico, tomografia cardíaca e ressonâncias magnéticas. Trata-se de condição quase sempre assintomática no adulto, mas que tem implicação nos fenômenos embólicos, tornando sua suspeição mandatória em casos de AVC criptogênico.
Palavras chaves: acidente vascular cerebral criptogênico; cor triatrium; leucemia mieloide crônica; malformações congênitas.
Clínica Médica
Hellen Caroline de Oliveira Pereira, André Leonam Lopes Isquierdo, Fernanda Cavalcante Rodrigues, Odilson Marcos Silvestre, Leonardo Assad Lomonaco