Mielorradiculopatia esquistossomótica - uma doença subdiagnosticada: relato de caso
A esquistossomose é uma doença parasitária endêmica, de ocorrência tropical, causada por um platelminto do gênero Schistosoma. No Brasil, é causada pelo Schistosoma mansoni e em casos raros, o parasita pode alcançar o sistema nervoso central (SNC) através da trama vascular periespinhal, causando a chamada neuroesquistossomose.
Relatar um caso de mielorradiculopatia esquistossomótica com diagnóstico inicial de polirradiculoneuropatia.
Sexo feminino, 18 anos, há um mês iniciou quadro de lombalgia e diarreia sanguinolenta, foi internada em hospital do município onde reside em Sergipe e tratada para infecção urinária. Com a persistência dos sintomas, procurou serviço em São Vicente - SP, iniciando investigação diagnóstica, quando apresentou quadro súbito de déficit motor em membros inferiores. Realizada análise de líquor e iniciado imunoglobulina endovenosa com hipótese diagnóstica de Síndrome de Guillain-Barré, sendo transferida para prosseguir tratamento em hospital de referência. Ao exame neurológico apresentava paraplegia crural com nível de sensibilidade em T10, retenção urinária e fecal. Ressonância magnética de coluna toráco-lombar evidenciou alteração de sinal na medula espinhal de T12 até o cone medular, com focos nodulares de realce ao meio de contraste, determinando leve efeito expansivo local, sugestivo de processo inflamatório. Devido ao antecedente da paciente ser proveniente de área endêmica para esquistossomose e ter nadado em “lagoa de coceira”, foram realizados exame parasitológico de fezes, sorologias sérica e do líquor para o parasita que resultaram positivos. A paciente foi tratada com praziquantel e prednisona, evoluindo com melhora radiológica e do déficit motor.
O SNC pode ser acometido nas infecções pelo Schistosoma mansoni, sendo que a deposição assintomática de ovos é frequente, e quando sintomática, provoca geralmente mielorradiculopatia. Nesse caso, o diagnóstico e a terapia foram precoces, havendo regressão da doença.
A mielorradiculopatia esquistossomótica é a forma ectópica mais grave e incapacitante da infecção por esse parasita, sendo uma doença subnotificada, de prevalência desconhecida e morbidade subestimada. O reconhecimento dessa doença e a instituição prematura do tratamento desempenham papel fundamental no diagnóstico diferencial, prevenção de lesões graves e irreversíveis, assim como na recuperação das pessoas acometidas, em geral jovens em plena fase produtiva.
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Clínica Médica
HOSPITAL GUILHERME ÁLVARO - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE SANTOS - São Paulo - Brasil
DANIELLE NAVARRO SATO, MARIA FERNANDA MELEGA MINGOSSI, LORRAINE LORENE FELIX CARDOSO, DANIELA MELLO TONOLLI, LETICIA LAMBERT