Taquicardia ventricular sustentada idiopática com origem no músculo papilar posterior como diagnóstico diferencial de taquicardia fascicular – Relato de caso
A taquicardia ventricular idiopática (TVI) corresponde a 10% das taquicardias ventriculares (TV), sendo, na maior parte das vezes, benigna. Sua classificação se dá pelo local de origem da arritmia, sendo a TV fascicular ou TV Verapamil-Sensível, a apresentação mais comum das TVI com origem no ventrículo esquerdo (VE). Além dos fascículos, outros focos, dentre eles os músculos papilares, também podem, de forma menos frequente, desencadear uma arritma, que se manifesta na maioria das vezes como TV não sustentada ou ectopias ventriculares.
Relatar um caso clínico com diagnóstico de TV fascicular, cuja ablação efetiva se deu no músculo papilar posterior.
Análise retrospectiva de prontuário proveniente de um grupo médico de eletrofisiologia cardíaca
Paciente do sexo masculino, 37 anos, história de palpitações taquicárdicas frequentes, ausência de cardiopatia estrutural, diagnosticado com TV fascicular e submetido à ablação por corrente de radiofrequência há 15 anos sem sucesso. No último ano, apresentou piora dos sintomas, sendo necessária internação hospitalar e cardioversão elétrica sincronizada. O eletrocardiograma (ECG) altamente sugestivo de TV fascicular, sendo representada pela forma mais comum, manifestando com bloqueio de ramo direito e eixo superior. Foi submetido a estudo eletrofisiológico invasivo e nova ablação por cateter por corrente de radiofrequência. Durante o procedimento guiado por mapeamento eletroanatômico, induziu-se uma TV monomórfica sustentada sem instabilidade hemodinâmica, cuja maior precocidade dos eletrogramas encontrava-se em região póstero septal apical do ventrículo esquerdo. Após mapeamento endocárdico, somente a aplicação por cateter irrigado em base do músculo papilar posterior do VE foi capaz de interromper a taquicardia.
Os achados eletrocardiográficos de taquicardia ventricular com padrão bloqueio de ramo direito e eixo superior em paciente jovem, sem doença estrutural cardíaca, é altamente sugestivo de TV fascicular. A TV sustentada originada no músculo papilar é infrequente e pouco descrito na literatura, contudo, merece atenção como um importante diagnóstico diferencial, principalmente em casos de insucesso e recorrência pós ablação de TV fascicular, tendo em vista, que os resultados através da ablação com radiofrequência guiados por mapeamento eletroanatômico, nesses casos, são altamente satisfatórios.
Clínica Médica
Amanda Altoé Satlher, Lara Louzada, Amanda Scalfoni Pecemilis, Dalton Hespanhol Amaral, Fabrício Sarmento Vassalo