Choque séptico e Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo na Paracoccidioidomicose Aguda – correlação anatomoclínica
A Paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose sistêmica endêmica na América Latina causada pelo fungo Paracoccidioides sp. A forma aguda/subaguda corresponde a 10% dos casos e acomete crianças, adolescentes e adultos jovens. A incidência é maior nas áreas rurais e em indivíduos que manipulam o solo
Correlacionar os achados de necropsia com os dados clínicos de uma paciente com sepse e dano alveolar difuso por PCM aguda, não suspeitada clinicamente.
Revisão do prontuário e estudo necroscópico.
L.F.G.M, mulher, 36 anos, professora em área rural, previamente hígida. Cursou por 2 meses com febre, astenia, emagrecimento e dor abdominal. O exame físico revelou hepatoesplenomegalia e taquipneia. Havia pancitopenia, e os testes rápidos para leishmaniose visceral e HIV resultaram negativos. TC revelou linfonodomegalia retroperitoneal. O mielograma revelou hiperplasia granulocítica e eritrocítica, eosinofilia, sem parasitas ou células neoplásicas. Evoluiu com insuficiência respiratória aguda e choque, foi instituída ventilação mecânica invasiva com parâmetros elevados. Tratada inicialmente com ceftriaxona, substituiu-se por vancomicina, polimixina B, meropenem e anfotericina, esta ainda pela suspeita de calazar. Apresentou insuficiência renal. O óbito ocorreu após 4 dias da admissão hospitalar. A necropsia revelou extenso acometimento do sistema mononuclear fagocitário pelo Paracoccidioides sp. Os linfonodos e a medula óssea tinham áreas de necrose com numerosas leveduras com gemulação múltipla, e inflamação esboçando granulomas. Além destes achados, havia no baço grande agressão vascular pelo fungo, com áreas de trombose recente e extenso infarto esplênico. Havia miocardite com esparsas leveduras. Observou-se congestão pulmonar, espessamento dos septos alveolares e frequentes membranas hialinas, sem identificação de estruturas fúngicas.
Deve-se considerar PCM em pacientes com linfonodomegalia ou hepatoesplenomegalia febril, de curso subagudo, mesmo em casos com apresentação atípica de sepse. O acometimento pulmonar clinicamente manifesto nesta forma da doença é raro, deve-se provavelmente ao processo inflamatório, e não à lesão direta pelo fungo, ausente nas amostras de pulmão neste caso. Não havia imunodeficiência conhecida, mas polimorfismos genéticos podem contribuir para a susceptibilidade individual.
Paracoccidioidomicose Aguda; Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo; Choque Séptico; Necropsia
Clínica Médica
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais - Minas Gerais - Brasil
Ana Júlia Furbino Dias Bicalho, Henrique Valladão Pires Gama, Luiz Otávio Savassi Rocha, Eduardo Paulino Jr, Weverton César Siqueira