O impacto do retardo diagnóstico nos sintomas de uma paciente com Acalasia - Um relato de caso
A acalasia é uma doença incomum, com prevalência de 10:100000 habitantes, que resulta da degeneração celular na parede esofágica acarretando falha do relaxamento do esfíncter esofagiano inferior (EEI) e aperistalse. Pode ser secundária a doenças como Chagas e Sarcoidose ou ser idiopática apresentando-se clinicamente com disfagia, regurgitação, dor no peito, emagrecimento e pirose.
Relatar um caso de acalasia, cuja demora diagnóstica acarretou graves sintomas a paciente.
E.S, sexo feminino, 53 anos, com história prévia de hipertensão arterial sistêmica, nódulo de tireóide em acompanhamento com endocrinologista, em uso de Omeprazol. Apresenta disfagia, pirose, regurgitação e odinofagia a sólidos e líquidos há 3 anos com piora progressiva dos sintomas e perda de 8 quilos no último mês. Nas endoscopias digestivas realizadas previamente diagnosticou-se gastrite, sem demais alterações, tratando com medicações, porém sem melhora do quadro. Exame físico, laboratoriais, RX de tórax e ECG normais. O Raio X de esôfago contrastado evidenciou redução do calibre na transição esôfago-gástrica com dilatação a montante e Manometria Esofágica demonstrou aperistalse em corpo esofágico, achados compatíveis com quadro inicial de acalasia do cárdia. Iniciou, portanto, tratamento com Nitrato via oral apresentando melhora dos sintomas e foi encaminhada ao cirurgião torácico.
Estudos recentes demonstram que portadores de acalasia possuem 9,2% mais chance de desenvolver câncer de esôfago evidenciando a importância do diagnostico precoce realizado pela Esofagomanometria (padrão ouro). Sabe-se que diversos tratamentos podem amenizar os sintomas desta patologia, porém nenhum deles normaliza a função esofágica e a eficácia tende a diminuir com o tempo, exigindo implementação de terapias alternativas. O tratamento que consiste na redução de pressão no EEI pode ser realizado com toxina botulínica, nitratos, bloqueadores de canais de cálcio, miotomia e dilatação pneumática conforme idade, sexo e preferência do paciente.
Frente ao caso e compreendendo que a acalasia além de impactar na qualidade de vida aumenta o risco do desenvolvimento de câncer de esôfago, entende-se a necessidade de uma investigação mais criteriosa àqueles com sintomas de disfagia não respondedores ao tratamento inicial. O melhor prognóstico e a melhora dos sintomas depende do diagnóstico precoce e da implementação de terapêutica correta ao paciente.
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Clínica Médica
Ana Carina Reichow Bandeira Caldas, Echiley Bardini Mendes, Felipe Debona, Laís Praetzel Soeiro Souza, Edgar Costa Schramm