PANICULITE SECUNDÁRIA À HISTOPLASMOSE EM TRANSPLANTADO RENAL: RELATO DE CASO
A infecção pelo fungo Histoplasma capsulatum geralmente cursa de forma assintomática ou com comprometimento pulmonar. Doença disseminada é usualmente observada em pacientes imunodeprimidos e pode apresentar-se com acometimento cutâneo, incluindo a paniculite (inflamação do tecido adiposo), sendo o eritema nodoso (EN) uma das formas de apresentação.
Atentar para este diagnóstico diferencial e a importância da biópsia na elucidação diagnóstica da paniculite, sobretudo em pacientes imunodeprimidos.
Este projeto de estudo de caso utilizar-se-á de metodologia qualitativa, descritiva e longitudinal, sendo realizado a coleta de dados por meio da análise de prontuário, que permite acesso à anamnse, exame físico e exames complementares.
Paciente masculino, 46 anos, agricultor; transplante renal doador cadáver há 6 anos por glomerulonefrite não especificada, em uso de prednisona, micofenolato mofetil e ciclosporina. Encaminhado ao ambulatório de infectologia devido quadro febril há 2 meses associado a sudorese, fraqueza, adinamia e perda de peso (cerca de 6Kg); relatou aparecimento de nodulações cutâneas em membros superiores e inferiores, dolorosas, sem sinais de supuração; negou outros sintomas. Exame físico: regular estado geral, febril, nodulações palpáveis em membros, com calor, rubor e dor; ausência de lesões em cavidade oral, linfonodos palpáveis ou alterações à ausculta. Laboratório: Hb 9,8/ leucócitos 3.500/ creatinina 3,0 (piora do valor basal)/ PCR 98. Devido ao quadro de imunossupressão, houve hipótese de doença fúngica ou micobacteriana, sendo encaminhado para biópsia das lesões, cujo resultado demonstrou paniculite crônica granulomatosa associada à fungos do gênero Histoplasma spp.; pesquisa de micobactérias negativa. Iniciado tratamento com Itraconazol via oral, ajustado para função renal; após 30 dias as lesões de pele involuíram e paciente manteve acompanhamento ambulatorial, com plano de 6 a 12 meses de terapia antifúngica.
O envolvimento cutâneo está presente em 4-15% dos pacientes com histoplasmose disseminada, comumente na forma de úlceras; a associação de histoplasmose e paniculite é incomum - descrita em apenas 16 casos na literatura, sendo 6 em transplantados de órgãos sólidos. Este caso demonstra a importância da biópsia para elucidação diagnóstica em pacientes imunodeprimidos, bem como a histoplasmose disseminada como diagnóstico diferencial, a fim de evitar tratamentos empíricos, toxicidade e falha terapêutica.
Histoplasmose; Imunossupressão; Paniculite.
Clínica Médica
Jordana Mayumi Yaguchi, Juliana Gerhardt Moroni, Alexandre Galvão Bueno, Vanessa Martins Uscocovich, Douglas Squizatto Leite